Outro arremesso forte, outro disco batendo na parte superior da rede, seguido pelo som satisfatório da campainha. Nada melhorava meu humor azedo do que marcar gols, mesmo que fosse apenas em treino.
Nesse momento, o treinador soprou o apito, interrompendo toda a atividade no gelo.
— Faça um intervalo de 15 minutos!
Patinando até o banco, tirei meu capacete, deixando meu cabelo suado solto. A lufada de ar frio na pista era refrescante após uma luta intensa na última hora e meia.
— Maldito Griffin, quem te irritou de manhã cedo? — Dylan, nosso goleiro, perguntou enquanto se aproximava da rede, sustentando sua máscara na testa.
Honestamente? Eu tinha uma lista de pessoas com quem podia reclamar, mas não estava prestes a discutir esses problemas na frente de toda a equipe. Essas situações aconteciam o tempo todo, e eu lidava com isso sozinho. Ninguém tinha tempo para ouvir minhas queixas.
— É porque você não conseguiu seu tempo de gelo solo de manhã? — perguntou um de nossos defensores, Kris, ao se juntar a nós. Essa foi apenas uma das razões.
Com meu carro na oficina, eu não só havia me atrasado para a reunião do conselho ontem, mas também para o treino de hoje.
E tudo isso por causa de Sophie e suas habilidades de condução.
Uma carranca se formou no meu rosto ao lembrar do incidente no estacionamento, e, em seguida, os olhares de julgamento que recebi dos velhos babões na sala de reuniões, todos tão ultrapassados que deveriam ter se aposentado há muito tempo. Mal podiam andar com seus bastões, mas ainda queriam me enfrentar. Como se tivessem alguma chance de vencer contra mim com seus corpos frágeis e músculos inexistentes.
A única razão pela qual eles se safavam da merda que me faziam era porque meu pai e meu tio os respeitavam, e minha mãe me ensinou a não agitar os mais velhos. Mas um dia aqueles velhos rabugentos me levariam ao limite, com certeza.
— Quem era a garota saindo de casa esta manhã? Pensei que tínhamos uma regra para não deixar a noite se arrastar — disse, mudando de assunto. Quanto mais eu pensava na reunião do conselho, mais minha irritação crescia. Agora, precisava de uma distração, não de um lembrete das merdas que aconteciam na minha vida fora do gelo.
— A garota de Dylan. Josie... Jacky alguma coisa. — Ethan disse. Ele era um defensor e um dos meus vários colegas de quarto, junto com Kris e Dylan. Viver todos sob o mesmo teto tinha suas vantagens, como o tempo de qualidade que passávamos juntos, mas também trazia desvantagens.
Como ter que lidar com o drama de suas namoradas bagunçadas.
— Jamie — Dylan brincou — e ela não é minha garota.
Eu tinha certeza de que o nome dela era Jennifer, mas tanto faz. Se ele não se importava com o nome dela, eu também não. Coloquei minhas mãos na cintura e estreitei os olhos para ele.
— Sim, ela. Por que ela estava na nossa cozinha de manhã?
Tínhamos regras claras em casa, e eu não gostava que fossem quebradas.
— Oh, por favor — disse Dylan, revirando os olhos cinzentos. — Ela não se aproximou do seu precioso banheiro. Você pode se acalmar.
— Você não diria isso se tivesse sido você a testemunhar a cena traumatizante — acusei.
No segundo ano, uma das namoradas de um dos caras passou a noite e usou meu banheiro de manhã, quando não conseguiu encontrar outro. Fiquei marcado para a vida toda. Não porque ela usou meu banheiro, mas porque o fez durante a menstruação e não se deu ao trabalho de limpá-lo depois.
Não me entendam mal. Sou muito solidário e compreensivo em relação às dificuldades pelas quais as mulheres passam, mas a cena ensanguentada que presenciei me fez sentir nauseado por dias. Por isso estabeleci a regra.
— Mas isso nunca mais aconteceu. Acho que deveríamos reconsiderar essa regra. Ouvi os calouros reclamando outro dia — interveio Kris.
Deixe que o "softie" da equipe se preocupe com as queixas dos calouros. Para mim, eles poderiam fazer alterações depois de morarem na casa por pelo menos um ano e entenderem como era a verdadeira realidade. Essas crianças ainda estavam iludidas achando que a faculdade era só festa.
Bufei de irritação e girei em meus patins para encarar Kris.
— Bem, Jamie usou aquela caneca rosa que sua irmã te deu de presente de Natal. — A cabeça de Kris imediatamente virou para encarar Dylan, que se virou para Ethan.
— Vai se ferrar — Dylan murmurou, mostrando-me o dedo.
— Por que você não a impediu? — Kris perguntou.
— Eu não pude. A caneca é rosa brilhante.
Joguei a cabeça para trás e ri quando o treinador os puxou de lado para repreendê-los pelo comportamento. Aquilo foi extremamente divertido.
Ethan limpou a garganta ao meu lado para chamar minha atenção, interrompendo minha imersão no meu mundo. Levantei uma sobrancelha para ele, que parecia relutante em falar.
— Fala, Maverick. Eu sei que você tem algo a dizer.
Ele pressionou o calcanhar do patins esquerdo contra o gelo, triturando um pouco da camada superior no processo.
— Você teve uma reunião de diretoria ontem. Está tudo bem?
Imediatamente, toda a felicidade que estava sentindo foi drenada de mim. Meu corpo ficou tenso quando o vazio dentro de mim se alargou, arranhando minhas entranhas.
— Tudo bem — eu murmurei.
— Seu rosto diz que estava tudo menos "bem".
Ele estava certo. Não estava "bem". Nada na minha vida estava "bem".
Como jogador de hóquei, os membros do conselho achavam que eu não estava levando a sério os negócios da família. Eles também não acreditavam que eu tinha chances de fazer uma carreira. Para eles, o hóquei era apenas uma distração que provava que eu não merecia um lugar à mesa dos negócios, e eu sabia que estavam só esperando por qualquer oportunidade de me derrubar.
Por outro lado, meu agente esportivo acreditava que eu estava gastando muito tempo no negócio e que não estava comprometido com o hóquei. Ele nunca disse isso abertamente, mas, ao longo do tempo, aprendi a ler suas entrelinhas.
Nossa conversa no início da semana deixou claro onde ele estava. Se eu não demonstrasse que estava falando sério sobre o esporte, ele me deixaria para trás e passaria a me considerar um projeto perdido.
Era como se eu estivesse preso entre duas pedras grandes em um lugar apertado.
— Eu lido com isso — disse, forçando um sorriso.
Eu ajudei Ethan a conseguir um estágio na empresa da minha família no verão passado, então ele sabia mais sobre o drama da minha vida do que qualquer outra pessoa. Ele era um bom amigo e nunca contou nada para os outros caras da equipe. Mas, às vezes, ele me puxava para o canto para garantir que eu estava bem.
Por mais que eu apreciasse sua preocupação, eu preferia manter meus problemas para mim. Não era como se desabafar fosse solucionar alguma coisa.
Ethan abriu a boca para falar, mas o treinador soprou o apito, retomando a prática. Olhei em seus olhos por mais um instante antes de patinar de volta para minha posição. Eu realmente não queria discutir nada com ninguém.
Só precisava de uma distração.
₊˚‧︵‿꒰୨ 🚲 ୧꒱‿︵‧˚₊
— Vamos, vamos! — gritou o treinador, soprando o apito meia hora depois.
Com o término do treino, todos patinaram até o banco, tirando os capacetes e agarrando toalhas e garrafas de água.
— Há uma reunião sobre o novo projeto que a universidade deseja implementar em uma hora, na sala de conferências. Quero que todos estejam lá e se comportem da melhor maneira.
Ele olhou para cada um de nós, como se quisesse transmitir a mensagem diretamente aos nossos cérebros, e só continuou quando teve certeza de que todos estavam na mesma página.
— Eu não sei muito sobre isso, mas é importante, então não ajam como caipiras lá. Agora vá tomar banho! Vocês fedem.
— Sim, senhor! — ressoou um coro de vozes acompanhado de saudações militares, fazendo o treinador balançar a cabeça, mas o sorriso em seu rosto era inconfundível.
O velho nos ama.
Um a um, descemos do gelo e fomos para o vestiário, que logo se encheu de conversas animadas.
— A reunião não era amanhã? — Ethan perguntou enquanto se despia.
— Era — confirmou Kris. — Talvez tenha sido antecipada.
Os caras assentiram, compreendendo, enquanto eu olhava em volta, sem entender. Parecia que era o único que não sabia o que estava acontecendo.
— O que eu estou perdendo?
— A universidade está planejando um projeto promocional para a equipe. Acho que eles querem atrair mais atenção para o departamento de esportes — respondeu Kris.
— Basicamente, será algum tipo de sessão de fotos. Ouvi dizer que o time de vôlei teve uma no ano passado.
— Andre, um de nossos alunos do segundo ano, deu uma força.
— Pense nisso como um ensaio para todos os contratos de marca que estaremos assinando quando formos profissionais — brincou Dylan, em seu canto do vestiário, exibindo-se nu.
Quando o conheci, eu, como o resto da equipe, fiquei surpreso com sua completa falta de vergonha diante dos colegas. Mas agora isso era tão normal quanto tomar banho, mesmo que ele dançasse nu enquanto se banhava e seu pai balançasse para lá e para cá.
Ele havia feito isso em algumas ocasiões após jogos importantes. Luto para apagar essa memória do meu cérebro todos os dias. Era traumatizante demais.
Ele então se virou e abriu os braços, fazendo uma pose.
— Eu vou ser uma estrela! — anunciou, antes de se dirigir aos chuveiros.
— Bem, pelo menos alguém está animado — eu disse, revirando os olhos, e os outros caras riram junto. — Mas como é que eu não soube disso?
De repente, Kris e Ethan se tornaram tensos, trocando olhares preocupados entre si.
— Uh... foi alguns dias atrás, quando você foi para casa e perdeu alguns treinos.
O alívio que eu estava sentindo desde que pisei na pista desapareceu imediatamente e um peso muito familiar se instalou em meu peito.
— Certo. Faz sentido — eu disse, assentindo rapidamente antes de ir para os chuveiros também.
Eu precisava me controlar.
Quarenta minutos depois, fui o primeiro a entrar na sala de conferências, enquanto os outros caras ficaram para trás. Havia um cara alto e corpulento preparando o projetor, com seu laptop em cima da mesa. O treinador estava conversando com uma mulher na frente da sala.
Com ela de costas para mim, não consegui ver seu rosto, mas algo sobre ela parecia familiar. Meus olhos examinaram seu corpo em forma, absorvendo sua figura. Ela usava uma camisa azul bebê enfiada em jeans rasgados que acentuavam sua cintura estreita e quadris largos, sem mencionar suas pernas longas. Seus cabelos ruivos estavam presos em um coque bagunçado, proporcionando uma visão perfeita de seu delicado pescoço.
Talvez trabalhar neste projeto não fosse tão ruim. Eu precisava de uma distração, afinal.
O treinador encontrou meus olhos do outro lado da sala e me chamou.
— Griffin. Vamos entrar — disse ele. — Onde está o resto da equipe?
— Eles estão esperando lá fora — respondi, aproximando-me deles.
O treinador suspirou e contraiu os lábios.
— É uma reunião. Não um desfile de moda — ele murmurou, antes de se voltar para a mulher novamente, com uma expressão surpreendentemente gentil.
— Estarei de volta com o resto.
Ela assentiu e ele rapidamente saiu da sala, resmungando algo baixo sobre as crianças de hoje em dia.
A mulher ainda não se virou para me encarar, então me aproximei até ficar a poucos metros de distância.
— Então, isso vai ser profissional, hein? — eu disse, tentando iniciar uma conversa casual.
— Suponho que sim — respondeu a mulher, e outra onda de familiaridade me atingiu, mas não percebi quem era até que ela se virou completamente. E, rapaz, eu estava surpreso.
— Olá, Atlas — disse a Sophie, com um sorriso irônico nos lábios rosa.
Ah, merda.