— Ele não tem esposa. Nem filha — Dante a interrompe, a expressão tão imóvel quanto granito.
Celina gira o rosto em sua direção, os olhos arregalados em choque.
— Como assim?
— Atualmente ele tem quarenta e três anos — Dante começa, cruzando os braços, o olhar sombrio fixo na parede um pouco descascada do hospital. — Foi expulso da escola aos dezesseis, depois de acumular uma ficha extensa de brigas de rua e pequenos delitos. Já foi preso por agressão mais de dez vezes. Um histórico impulsivo, errático.
A voz dele é firme, precisa, como se estivesse relatando um caso qualquer — mas há rigidez demais nos ombros para ser só isso.
— Há dois anos, foi internado num hospital em estado crítico — continua. — Quase morto. Apanhou feio. Parece que alguém se vingou. Desde então... começou a contar que é casado e tem uma filha. Sempre a mesma história, com detalhes cada vez mais vívidos. Susy. Uma mulher com cabelo preto e olhos prateados. Mas não existe nenhum registro. Nenhuma certidão de casa