Na cozinha, o cheiro de carne queimada domina o ar, preenchendo cada canto com sua presença pesada. A panela no fogão solta fumaça escura e densa, que sobe em espirais preguiçosas até o teto. Dante se aproxima e desliga o fogo com um estalo metálico. Fica ali parado por um instante, encarando os cubos escurecidos grudados no fundo. Estão tostados demais — quase irreconhecíveis.
— Fazer cozidos não é meu forte — murmura, a mandíbula travada em frustração.
Ele pega uma colher de madeira e raspa com cuidado as partes menos queimadas, empilhando o que ainda pode ser salvo num prato fundo. As bordas tostadas formam crostas quebradiças, duras como carvão. Ele separa o que parece menos ofensivo, tentando imaginar se aquilo seria minimamente aceitável para uma humana faminta.
Com um suspiro resignado, monta uma bandeja simples: o prato com carne, um copo d’água e um guardanapo.
Com a bandeja equilibrada nas mãos, Dante retorna à toca. Celina está sentada, encostada na cabeceira da cama. O ros