A Marca Dos Destinados

As solas das botas de Dante ressoam contra o asfalto molhado. Ele corre como se o inferno estivesse em seu encalço — o que, pela sua concepção, está. As ruas estão vazias, o céu carregado ameaça desabar sobre a cidade a qualquer instante.

Ele não olha para trás. Não precisa.

Seus pulmões ardem, mas não pelo esforço.

Cada passo parece mais pesado, como se algo invisível o puxasse, queimando de dentro para fora.

É o sangue que começa a ferver.

É o instinto que ruge.

É o castigo reservado para os machos finalmente sendo cobrado ao Alfa fujão.

Ele dobra a esquina de um beco deserto e mergulha na escuridão como se quisesse desaparecer nela.

Mas o alivio do vento frio não vem.

Pelo contrário.

O calor que se espalha por seu corpo é insuportável. Ardente. Como se cada nervo gritasse, protestando com uma dor ainda pior do que quando duelava contra outras lycans pela defesa de seu território ou por competição.

As mãos tremem. Os olhos escurecem ainda mais, quase não dando para diferenciar as pupilas das íris. Ele crava as mãos na parede de concreto úmido e fecha os olhos, tentando se manter sobre controle, tentando rejeitar a ligação, mas é inútil.

Algo o consome, o dominando como nada antes, ainda mais forte do que a dominância de um Genuíno Alfa.

O cheiro dela ainda está em suas narinas.

Doce. Forte. Inaceitável.

Ele ofega.

— Merda... — rosna entre os dentes.

Se encosta em uma parede suja, pichada, o peito subindo e descendo com dificuldade. O suor escorre pelas têmporas, mas é quente demais, como se estivesse em chamas por dentro, evaporando antes mesmo de escorrer até seu queixo.

— Não... — rosna, cravando as unhas no próprio peito.

Kaito finalmente vira a esquina, encontrando seu o Alfa. Ele para, atordoando com o que vê.

— Alfa? — Pergunta, sem conseguir esconder a tensão na voz.

Dante cai de joelhos. Suas mãos se cravam no chão de concreto rachado. As unhas crescem, arranhando o chão com estalos secos.

Um rosnado de dor escapa de sua garganta. Ele rasga a camisa com as garras, revelando os músculos tensos e a pele marcada pelo tempo e pelas batalhas.

— Não. Não! — sua voz mistura fúria e desespero.

Seu corpo começa a tremer descontroladamente. A pele onde a marca nasce pulsa com uma luz tênue, prateada, que vai aumentando de intensidade. Ele tenta lutar. Tenta sufocar.

A dor é lancinante.

Como se ferro em brasa estivesse sendo pressionado contra a pele. Como se a alma estivesse sendo marcada junto com o corpo.

Seus músculos se contraem. Os olhos, outrora negros como o breu da noite, ficam dourados completamente. Tanto ele quanto seu lobo recebendo a marca.

Um gruindo abafado escapa de sua garganta. Dante não quer gritar, mas a dor o vence.

Kaito arregala os olhos, nunca antes havia visto pessoalmente um macho encontrando sua destinada, mas Dante o havia contado o que aconteceria quando o dia chegasse.

— O quê...? Não... — Ele se aproxima devagar. — Mas... você não disse que já teve uma companheira? Como... quem...

Kaito se sente tonto por um momento, nada fazendo sentido em sua mente. Quando era apenas um filhote, e conheceu o lycan que custou a aceitar como Alfa, Dante havia lhe contato ser um viúvo sobrevivente, que já havia passado pelo processo, então...

Por quê?

— Não... isso não é possível... — Kaito murmura, dando um passo para trás.

Dante ouve. Cada palavra.

Mas não pode responder.

Ele apenas range os dentes com tanta força que a mandíbula parece prestes a se partir.

A marca se forma devagar, como se um dedo de prata estivesse desenhando a ligação eterna sobre sua carne.

Ele cai para frente, apoiando-se nas mãos.

Dante grita. Um som primal, selvagem, cheio de fúria e dor. O eco se perde entre as paredes do beco, mas a fúria permanece. O chão frio começa a rachar ao redor dele, o concreto cedendo sob a alta temperatura que irradia de seu corpo. O suor se transforma em vapor. O cheiro é o de magia antiga, de vínculo, de laço sagrado, de carne queimada.

— Isso é... realmente é a marca dos companheiros destinados — Kaito finalmente diz em voz alta, como se precisasse ouvir para acreditar.

O silêncio se instala por um segundo.

Depois, Dante ri.

Um riso amargo. Quase insano.

Ele tenta se levantar, cambaleia, mas não desiste. O lobo dentro dele uiva, afoito para se aproximar da sua fêmea, alimenta-la, protege-la, acasalar com ela pelo restos de suas vidas.

Dante rosna, furioso com as intenções de seu animal interior.

Eles tinham apenas uma companheira.

Apenas uma.

E ela se foi.

— A deusa enlouqueceu... — ele murmura, balançado a cabeça de forma negativa.

Kaito se aproxima novamente.

— Alfa...

— Eu fugi — Dante rosna, Kaito recua um passo. — Eu vivi no mundo humano para fugir disso!

— Fugiu? Mas... — Kaito se cala, respirando fundo. Isso não é o mais importante no momento. — Então um lycan pode ter duas companheiras destinadas? — Ele questiona, as sobrancelhas franzidas. — Mas, havia apenas uma fêmea por quem cruzamos hoje...

O Alfa vira o rosto, as pupilas dilatadas, os músculos da mandíbula se contraindo.

— Humana — ele cospe a palavra como se tentasse repelir um veneno forçado em sua boca.

Já não bastava o Genuíno Alfa ser destinado a uma humana, que tomou como escrava através de uma aposta, agora ele também estava entrelaçado a uma?

O que diabos a deusa da lua tem em mente? — Dante se questiona, acreditando que ela está zombando dele pela segunda vez em sua vida. Ele leva a mão ao pescoço, sentindo a pele ainda quente, marcada, selada.

Kaito engole seco.

— Isso... não faz sentido, esse destino...

— Isso não é destino, Kaito, é punição.

O ômega não sabe o que dizer.

Ele apenas observa a figura do Alfa diante dele — quebrado, furioso, marcado. Não é o Dante implacável de antes. É outro. Mais perigoso. Mais instável.

A imagem da humana surge nítida na mente de Dante.

Ela parecia reconhece-lo, ela sentiu a ligação sendo formanda assim como ele?

— Essa é sua ideia de justiça, deusa? — ele murmura, os olhos fixos no céu nublado. — Foi por que eu não consegui salvar a minha companheira e os meus filhotes? Por que me deixei ser enganado? Por que fui fraco? É por isso que me está me dando uma humana? Alguém que não faz parte do nosso mundo? Não posso aceitar isso...

A chuva finalmente cai sobre eles, não começa fina, as gotas caem grossas e geladas. A chuva ficando mais densa a cada instante, revolta. Como se transmitisse os próprios sentimentos da deusa.

— Foda-seee — Dante rosna, sentindo-se como um animal encurralado.

O lobo, inquieto.

O homem, em guerra.

Dante fecha os olhos, e o rosto dela invade sua mente.

A humana.

A maldita humana.

Seus olhos, sua voz, o toque da mão sobre sua jaqueta.

Ele sente tudo de novo. O cheiro dela ainda está preso em seu nariz.

E é isso que o enlouquece.

— Precisamos encontra-la, Kaito.

— O que fará, Alfa?

— Rejeita-la.

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