Congelado No Tempo

— Já Chega!

A voz de Dante explode no ambiente como um trovão seco. Instintiva. Irrefutável.

Kaito se cala no mesmo instante, os ombros enrijecendo como se um peso invisível tivesse sido lançado sobre suas costas. Nem ousa respirar alto.

Celina também para.

Paralisa.

Porque aquela voz...

Aquela voz...

Um arrepio percorre sua pele como se algo dentro dela a reconhecesse antes da razão. Lentamente, ela vira o rosto na direção do som da voz, sentindo o ar ao seu redor ficar mais denso. Mas tudo o que vê é a nuca do homem, os ombros largos sob a jaqueta escura, os cabelos levemente úmidos, o andar firme que já se afasta.

— Vamos embora — Dante diz, de costas, retomando seu caminho com a frieza de quem não se importa com mais nada.

— Ei! — Celina corre atrás dele e segura, com força, a barra da jaqueta. — Você... você não vai nem perguntar se estou bem?

O Alfa para.

Devagar.

Muito devagar.

O silêncio se alonga como uma linha prestes a romper.

E então ele se vira. Só o suficiente para lançar o olhar por cima do ombro.

Seus olhos a encontram — negros, profundos, sombrios. Olhos que carregam a fúria de um predador e o silêncio de um cemitério.

Celina arfa. Um arrepio sobe pela sua espinha, os olhos arregalando lentamente.

Ela paralisa, os dedos apertando ainda mais a jaqueta. Um zumbido ecoa em seus ouvidos, a o rosto dele se mistura com o passado em sua mente. A imagem do agora... e a da última vez que o viu, encharcado de sangue. Os olhos brilhando em contraste com a escuridão da noite, como uma fera à solta.

É ele...

O homem do pior dia da sua vida.

O rosto que ela jamais esqueceu.

O canalha que procura desde que iniciou na polícia. Que nunca conseguiu encontrar, por mais que investigasse, buscasse... que sonhasse...

E agora, está ali.

Na frente dela.

Idêntico. Exatamente igual.

Sem um fio de cabelo branco. Sem uma ruga sequer.

Como isso é possível? — Ela se questiona, encarando-o cética, é como se ele simplesmente tivesse parado no tempo. Congelado.

O olhar de Celina desce, quase como atraído por um imã, até o distintivo pendurado no peito dele.

Polícia.

A palavra brilha como uma ofensa diante de seus olhos.

Todo esse tempo... eu estava procurando por um assassino que se escondia atrás de um crachá. Um monstro protegido pela farda. Pela lei — a constatação faz o peito de Celina se apertar ainda mais. A náusea sobe. Ela se questiona o que mais está podre nesse lado da lei que ela jurou defender?

— Meu.. meu... quê? — Celina começa a gaguejar. O ar entra rápido demais por seus pulmões, deixando-a tonta. O cenho se franze. Que diabos ela quer dizer com: meu?

O que era dela?

A vingança?

A justiça?

Sim!

Ele está parado bem na sua frente. Mas por que a ordem de prisão simplesmente não está sai?

As palavras se perdem na garganta.

O mundo parece afundar sob seus pés.

Mas, dessa vez, não é por causa do acidente. É ele. A verdade. A revelação.

Ela tenta falar. Dizer qualquer coisa. Mas a voz não sai.

— Solte-o, sua mulher doida! — Kaito se interpõe de repente, e com um puxão brusco, arranca a mão dela da jaqueta de Dante.

Celina mal percebe o gesto. Está paralisada, os olhos fixos no homem diante dela.

Mas então… ele se move.

Simplesmente vira e começa a correr.

Não é uma corrida comum. Corre tão rápido quanto um atleta de olimpíadas. Em segundos, Dante já vira a esquina e desaparece.

Ela nem tem tempo de reagir.

Kaito dispara atrás dele como uma sombra ágil.

E Celina...

Celina fica ali, boquiaberta. O cérebro tentando alcançar o que o corpo já perdeu de vista.

Um segundo.

Dois.

Estão fugindo!

Finalmente, ela força as pernas a se moverem. Mas antes que possa correr atrás deles, o som de pneus freando corta sua linha de ação.

Uma viatura para bruscamente ao seu lado. Dois policiais descem.

— Ainda bem que vocês chegam! — Ela diz, finalmente voltando ao controle de sua voz. — Eles fugiram pela...

— Senhora, fique onde está — o policial mais velho ergue a mão, repousando a outra sobre o coldre da arma.

Celina pisca, confusa.

— O que aconteceu aqui? A senhora está ferida? — Pergunta o mais novo, anotando algo em um bloquinho.

— Quê? — O olhar dela recai sobre capô de seu carro completamente estragado. — Merda...

O policial mais velho pega o rádio preso no ombro, sua voz ecoando protocolar.

— Precisamos da companhia de água no cruzamento da 5ª com a Main Street. Hidrante quebrado. Vazamento ativo.

Celina abaixa os olhos, só então se dá conta na poça de água se formando embaixo de seu carro, escorrendo por toda a rua.

Fecha os olhos por um instante.

Solta o ar devagar, tentando controlar a pressão que aperta sua cabeça.

Seu coração ainda está acelerado. O choque ainda pulsa sob a pele, jamais imaginou que o reencontraria assim. Ao menos, agora ela já tem noção de onde deve procura-lo.

— Senhora, o que foi essa luz em seu pescoço? — O policial questiona, coçando o olho, pois foi tão rápido.

Celina leva a mão ao pescoço, franzido o cenho.

— Luz?

— Ah, não foi nada.

Mas no segundo segundo seguinte, um rugido ecoa em sua mente. Ela cambaleia, atordoada e consufa, seus olhos piscam, perdendo o foco por um momento.

O que foi esse som? Por que um lobo rosnou do nada em sua mente?

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