EULÁLIA— Você... não é o Ciro — consegui dizer.Ele sorriu e deixou meu queixo.— Droga, ela parece que está se recuperando.Aquelas palavras não eram para mim. Então busquei mais alguém, e quando apareceu, fiquei espantada.“Esse é o Ciro?” Ele vinha devagar, com um olhar lupino indescritível.— Isso é uma... alucinação? — perguntei baixinho.O lobo à minha frente teve as feições mudadas. Agora eu conseguia ver: era um humano. Olhei novamente para trás e encontrei o Ciro de verdade.— Ela está se recuperando? — o humano perguntou, nervoso.Ciro me olhou de cima a baixo, me recordando que eu não estava de calça e blusa, como pensei na minha ilusão. Estava com um vestido sensual e curto.Apertei meu corpo automaticamente.— Ela apenas percebeu o que é real — murmurou Ciro.— Quem garante? — o homem apertou os dentes. Outro rosnado veio de cima.— Deixe-a correr e veja se ela consegue.O humano saiu da minha frente. Eu dei tudo de mim, juntei forças e procurei nos meus músculos alguma
EULÁLIA — Ele pode proteger você. — Proteger alguém que tomou o que era dele desde o início, que tocou nela assim como estou tocando, que deixou seu cheiro nela? Mordi meus lábios, recordando que Wulfric disse que era louco, que não era ciumento, que era possessivo. Que poderia enlouquecer a qualquer momento quando se tratava de mim. — Viu. Eu não tenho escapatória. — Mas você é um alfa. Não é qualquer um que pode te matar tão fácil. Ele soltou uma risada anasalada, segurando meu queixo, aproximou seu rosto. — Ele também não é qualquer um. Aquilo me deu a certeza de que era alguém forte no conselho. Alguém bem próximo ao Supremo. — Você pode com ele… — Não. E não tenho tempo! — se irritou, mas ainda assim beijou minha testa. Por um momento, fiquei paralisada, não de medo, de confusão. — Se eu não posso fazer nada quanto à minha vida, eu poderia apenas amar você uma vez, não acha? — Não. Não é isso que você quer. Ciro me olhou novamente, dos pés à cabeça. Então sua outra
Capítulo 41 WULFRIC Os raptores de Eulália, espalhados pela floresta, pararam de correr. Alguns caíram de joelhos, o medo dominando suas mentes e corpos. Eles estavam paralisados. Todos, até mesmo os humanos, sabiam que eu estava indo ao encontro deles. E nada, absolutamente nada, seria capaz de me deter. As armas humanas não me matariam, poderiam me ferir, mas isso só me deixava mais irritado — e eles com certeza não sabiam disso. Era provável que eles escutassem o som de algo grande demais se aproximando em alta velocidade, trazendo a sensação de que o chão estava tremendo, carregando as ondulações dos meus movimentos. Essa era só mais uma coisa boa em ter tal forma e tamanho — quando eles estivessem assustados e arrependidos por despertar em mim a fúria e a loucura que eu mesmo sempre quis conter. Eu ia fazer minha própria entrada. Minutos depois, tiros voaram na minha direção, carregados pelo som incômodo das balas ao saírem dos canos. Eles atiravam em qualquer coisa e tudo
EULÁLIA Aquele momento não sairia da minha cabeça nunca mais. Quando achei que poderia me machucar nas garras de Ciro, ele surgiu para me salvar, como prometeu que faria. Eu estava me livrando do medo, das piores possibilidades, enquanto corria para os braços do meu supremo, meu companheiro. E já conseguia sentir o calor da sua pele contra o meu corpo, que o apertaria forte para compensar por tudo que passei. Mas ele desviou os olhos dos meus quando já me via quase em seus braços, a poucos metros. Então, correu na minha direção, sem olhar para mim — e não era para mim que ele vinha… Seus cabelos platinados voaram com rapidez pelo vento que o levou. Parei onde ele estava antes, me virando para encontrá-lo segurando Ciro contra a parede. Sua mão direita empurrava a garganta de Ciro, enquanto ele estava pendurado por ela na parede. “Oh, não! Ele realmente quer o sangue dele depois de tudo isso.” No fundo, eu não sentia mais pena de Ciro. Ciro tinha escolhas. Por mais que ele pe
EULÁLIA A água escorria por todo o seu corpo, dos cabelos às partes visíveis. Consegui ver cada gotinha de onde estava, observando para onde se dirigiam, escorrendo em pouca ou alta velocidade… Por um lado, queria ser convidada a me limpar ali também, mas, por outro, o rio agora me era como um terreno — ou túmulo estranho. Meu verdadeiro companheiro havia matado aquele que, um dia, acreditei ser meu ex, bem ali. Na realidade, ele nunca foi de verdade alguém para mim, já que apenas fui usada desde o início. Suspirei, sentando na margem do rio, evitando tocar meus pés na água. De joelhos dobrados frente ao corpo, como se aquilo me protegesse, continuei assistindo o supremo alfa tomar seu banho, como se fosse uma ação comum. Ele tinha uma beleza tão incomum que até mesmo meus cabelos ruivos avermelhados não pareciam grande coisa — assim como meus olhos cinzas. Wulfric era único, inusual e, mesmo assim, belo. Seus platinados ficavam mais cinzentos com a água; seus olhos com hete
EULÁLIA— Fica do lado de fora, pelo menos. Só por um tempo. — pedi, baixinho.— Só até eu lembrar que está tudo bem. — Não era medo dos humanos...Era pelo que eles tinham em mente, por sentir, por um momento, que teria meu corpo violado mais do que por olhares indiscretos e nojentos.Ele assentiu, silencioso. E mesmo quando se afastou, eu sabia que estava ali. E, por alguma razão, isso bastava.Dias depois...O castelo parecia mais quieto do que de costume, mas não era um silêncio real. Era aquele silêncio julgador, aquele recordatório de que minha presença trouxe desordens, perigos e ameaças a todos que moravam no castelo — e até mesmo para a nossa espécie, pois humanos foram envolvidos no nosso mundo, e ninguém se esqueceu disso.O julgamento e as incertezas quanto a mim, uma Luna ainda sem uma cerimônia: por minha própria escolha, mas que, para o povo, era mais um motivo de desconfiança. Estavam por toda parte: nos passos contidos dos criados, nos sussurros abafados nos corredore
EULÁLIA— Sim. Eu quis vir com ele. Fiquei surpresa por vê-lo só agora. — Compartilhei minha esperança de conseguir amizade com o ômega.— Não se aproxime demais dos outros lobos. — Disse Wulfric, me estendendo a mão.“Um conselho? Suponho.”Olhei na direção de Reymond, ele tinha as bochechas meio coradas pela minha atenção naquele momento meio constrangedor. Imediatamente, voltei o olhar para meu companheiro, que apertava os olhos de modo que o aro avermelhado ficava mais visível que o cinza.— Espero que não seja um flerte. — Disse muito sério quando segurou minha mão.Devia ser um alerta, para ambos. Apenas ri, mas Reymond respondeu por mim rapidamente:— Eu jamais me atreveria, sua majestade!Com a mão envolta dos dedos de Wulfric e o ômega atrás, chegamos ao escritório.— Pode falar. — Disse Wulfric, sério, sentando-se comigo no sofá enquanto indicava a poltrona à nossa frente.Reymond não desviou o olhar dele ao responder:— A alcateia de Kall está instável, mas sobrevivendo.N
EULÁLIA Agora fazia sentido seu sumiço por todo aquele tempo. — William está preso? — me vi perguntando de repente. — Não foi de imediato. — Wulfric pareceu desinteressado, mas os nossos olhares sobre ele o fizeram respirar fundo e se levantar, indo até o outro lado da mesa do escritório, de costas para a estante recheada de livros. — William foi imprudente ao “improvisar” os cortes. Ele não deveria ferir tão profundamente. Isso criou cicatrizes permanentes porque ele é o Beta, que está acima de Reymond. — Indicou com a mão o próprio ômega, me explicando com o olhar cada palavra que dizia. — O Supremo o puniu? — meus lábios soltaram minha curiosidade. — Foi preciso. Não queria nem imaginar como deveria ser uma punição vinda das mãos de Wulfric. Principalmente por recordar o quão rápido ele matava. Reymond ficou em silêncio. — Entendi. — murmurei. — E Garren? — Wulfric tomou a palavra. — Ainda igual. — De repente Reymond pareceu recordar-se de algo. — A invasão p