Pai, eu não tenho nenhuma chance com ela e me recuso a ser só seu amigo.
Eu fito meu pai dormindo tranquilamente. O quarto está silencioso, exceto pelo som leve da respiração dele. Estou tão cansado que mal percebi quando adormeci na poltrona ao lado da cama. A noite foi longa, sufocante, e meu corpo cedeu.
Quando acordo, ele já está me olhando — e sorri. Aquele sorriso calmo dele, mesmo em meio à dor, sempre me desarma.
— Você me parece cansado — diz sério, os olhos atentos ao meu rosto, como se lesse cada linha de tensão ali desenhada.
— Não dormi bem à noite — respondo, com a voz arrastada.
— Para um jovem que, se deixassem, dormia até meio-dia? — Ele arqueia a sobrancelha. — Não é muito natural você ter insônia. Por acaso essa insônia se chama "Marina"?
Posso mentir. Dizer que não. Que é o calor, que é preocupação com ele, que é qualquer coisa. Mas não consigo. Não agora. Não com ele assim, tão vulnerável e ainda assim tão lúcido. Eu posso interpretar qualquer papel diante de Marina, mas não diante do meu pai.
— Sim. Desde que a revi, não tenho dormido