Lúcia
O sol da manhã entrava tímido pela janela, aquecendo os lençois floridos que cheiravam a sabão e cuidado. Acordei devagar, o corpo ainda cansado e a mente carregando resquícios de pesadelos. Mas havia algo no ar — uma leveza discreta, um silêncio bom. O tipo de paz que só o sábado sabia oferecer.
Desci as escadas descalça, os cabelos presos em um coque improvisado. Tia Marta estava na cozinha, cantarolando baixinho enquanto passava o café. O cheiro de pão recém-assado e ovo mexido preenchia a casa.
— Dormiu bem, filha? — perguntou, olhando por cima do ombro.
— Melhor que ontem. Bem melhor — menti parcialmente. A presença deles sempre ajudava, mesmo que os fantasmas do passado ainda dançassem quando a casa silenciava.
Tio Armando já estava à mesa com o jornal aberto e o rádio antigo tocando canções de alguma estação de rádio qualquer. Me sentei entre os dois, tomando o café em silêncio por um tempo, ouvindo o chiado da manteiga na frigideira e os talheres contra o