Congelei. O que eu via era infinitamente pior do que tudo que imaginei, mesmo depois da descrição que Otávio nos dera. Meu corpo paralisou. Meu peito se apertou com uma dor que não era só minha. Era como se o ar ao redor estivesse mais denso, como se o tempo tivesse parado para nos obrigar a encarar o que restou dela.
Camila estava deitada na cama. Ou, talvez, o que restava de Camila. Seus cabelos loiros, antes sempre tão bem tratados, agora estavam embaraçados, opacos, e com frizz. O rosto que outrora parecia moldado por algum escultor dos céus agora ostentava hematomas, olheiras profundas e olhos inchados, vermelhos de tanto chorar. Seus traços estavam virados para o lado oposto da porta, como se ela não quisesse ser vista. Como se quisesse desaparecer.
E sua barriga... ainda inchada. Mas eu sabia que aquele volume não carregava mais vida.
Na hora, me lembrei da imagem que vi no celular de Ítalo, no dia em que fugi: a barriga grande, redonda, perfeita. Uma gestação já avançada. Um v