Otávio
Estacionei em frente ao prédio da Isabela, mas não desliguei o motor. Os vidros escurecidos me escondiam do mundo lá fora, ainda que eu me sentisse completamente exposto por dentro. O convite dela ainda brilhava na tela do celular, como um lembrete incômodo do que eu deveria querer.
“Hoje estou sozinha. Vem jantar comigo?”
Eu sabia o que aquilo significava. Sabia o que ela queria. Isabela não dava ponto sem nó — e um jantar naquela altura do campeonato vinha embalado com intenção e assinatura. Talvez até com armadilha.
Olhei mais uma vez para o prédio. Suspirei. E, pela primeira vez em muito tempo, escutei a única voz que eu costumava calar: a minha.
Engatei a ré.
— Eu não quero mais perder tempo com o que nunca foi meu — murmurei, acelerando para longe dali.
—
No dia seguinte, cheguei mais cedo à empresa. Não por obrigação, mas por impulso. Uma inquietação interna me empurrava para aquele saguão. Eu precisava vê-la. Lúcia.
Mas quem apareceu primeiro foi Isab