Lucila piscou várias vezes, como se seus olhos a estivessem enganando. Mas a imagem na tela do celular era nítida demais para ser um engano.
Era mesmo uma criança.
Estava com a cabeça entre os joelhos, aparentemente com roupas masculinas. Encolhida sob a tempestade, no canto do jardim, próximo ao portão lateral leste; abraçando as próprias pernas como se quisesse desaparecer dentro do próprio corpo.
Por um segundo, até o respirar de Lucila ficou parado, estático. O som da chuva parecia mais alto, mais brutal. Como se cada gota que caía estivesse machucando aquele corpinho indefeso.
Lucila levou a mão à boca, um soluço preso em sua garganta. Sem pensar duas vezes, largou a xícara de chá na bancada, o líquido derramado em silêncio sobre a porcelana branca, e correu para a porta dos fundos.
As mãos tremiam tanto que ela mal conseguia girar a chave, mas o coração já gritava em seu peito com a urgência de quem reconhece o sofrimento, de quem já esteve ao relento emocional tantas vezes na