08. Nos braços do supremo
James Grant
Estar nessa posição nunca foi uma escolha. Foi uma maldição.
Quando se é apenas uma criança e vê sua família sendo dilacerada diante dos próprios olhos, algo dentro de você morre também. E o que sobra… nunca mais volta a ser humano.
Meus dedos apertavam a borda do copo de burbom enquanto o silêncio da sala me consumia. A única fotografia dos meus pais amarelada, com as bordas desgastadas, estava ali, apoiada sobre a lareira. Eu a olhava como quem encara uma ferida aberta que nunca cicatrizou.
A imagem deles sorrindo era cruel demais para mim. Como se o tempo tivesse congelado aquele instante de felicidade só para me lembrar de tudo o que perdi.
Fechei os olhos e, como um pesadelo recorrente, as lembranças invadiram minha mente com força bruta.
Gritos. Lobos correndo. Sangue na neve.
O cheiro da morte impregnado na floresta.
A alcateia atacada sem aviso, sem piedade. Fêmeas sendo arrastadas pelos cabelos, os mais jovens tentando lutar… em vão. O som dos ossos quebrando.