Otto e Julia ficaram deitados, abraçados, trocando beijos e carinhos. Era tudo tão natural. Estavam à vontade, como se não fosse a primeira vez. Otto a olhava, ainda sem acreditar em tudo o que havia acontecido. Sentia-se confortável de fato, mas, ao mesmo tempo, havia algo estranho: era sua melhor amiga ali, nua, totalmente entregue a ele.
Julia o olhava satisfeita, com um sorriso tímido no rosto. A cada beijo e carinho trocado, sentia uma explosão de sentimentos ainda mais intensa. Não queria parar. Não queria que acabasse.— Há quanto tempo queria isso? — perguntou Otto, com a voz baixa e cansada.— Há muito tempo — respondeu Julia no mesmo tom.— Eu não quero estragar.— Eu sei.— Tenho medo — sussurrou.— Eu também.— O que vamos fazer?— Eu não sei.— Não dá para fingir que nada aconteceu. É impossível.— Otto, eu não quero pJulia levantou cedo, precisava se arrumar para o trabalho. Antes de sair, foi até a cozinha para comer algo rápido. Patrícia e Grace já estavam lá. Grace havia separado um prato com ovos fritos e torradas.— Bom dia — bocejou.— Aqui, já estava preparando seu prato — disse Grace, entregando-lhe uma xícara de café. — Preciso ir. — beijou a filha e saiu.— Obrigada, mãe — agradeceu Julia, sentando-se para comer.— Quer uma carona? — perguntou Patrícia.— Não precisa, não quero te incomodar.— Deixa disso, hoje estou de folga. — passou gelatina na torrada e ofereceu a Julia. — Quero resolver umas coisas.— Folga?! — pegou um pouco da gelatina. — Que maravilha, Paty. Aliás, estou te devendo uma escova, pode marcar uma hora no salão.— Ô menina, e quando foi que te cobrei alguma coisa? Te orienta — riu.— Ah, mas seu cabelo estava tão bonito no dia da festa — lembrou, lamentando.— Realmente, mas eu
Julia e Patrícia estavam com sorte. O movimento no salão estava fraco, o dia teve pouquíssimos agendamentos e, naquele momento, as duas estavam livres.Patrícia fez as unhas, uma hidratação e refez a escova — o que causou risos, já que precisou explicar por que havia retornado em tão pouco tempo.Julia queria mudar. Então, decidiu cortar os cabelos. Antes, eles iam até a cintura; agora, fez um chanel curtinho que deixava a nuca à mostra e a fazia parecer ainda mais jovem.Patrícia não acreditou que ela realmente fosse cortar, até ver os fios caindo no chão.— Eu ainda não acredito que você cortou — falou Patrícia, passando a mão nos cabelos de Julia. — Está linda, está até mais jovem. Queria ter a sua coragem.— Você ficaria linda com um corte assim, mas não tão curto. Iria te deixar ainda mais fina.— Quem sabe um dia… — sorriu. — Vamos tomar um café?— Vamos.Julia sabia que Patrícia queria conversar — e ela também estava precisando.— Enny, liga para o Daniel para mim, por favor. D
Chegaram em casa um pouco depois do previsto. Levaram hambúrguer e batata frita para Daniel e Otto — uma forma de se desculpar pelo horário. Encontraram os dois nos fundos da casa. Daniel estava sentado à mesa de piquenique lendo um livro, enquanto Otto olhava para o nada, pensativo. Ambos pararam o que estavam fazendo assim que as duas passaram pela porta de vidro.— Meu amor, você está linda — disse Daniel, largando o livro, levantando-se e beijando Patrícia. — Julia! — exclamou ao reparar nela. — Não acredito que fez isso!— Estou feia? — perguntou, brincando.— Claro que não, só está parecendo uma adolescente — riu, passando a mão pelos cabelos dela. — Está linda, menininha — abraçou-a.— Obrigada — sorriu. — Trouxemos hambúrguer e batata frita para vocês dois — mostrou os pacotes.— Desculpa a demora, resolvemos ir ao salão hoje. — falou Patrícia — Tudo bem, a Enny me ligou avisando.Daniel sentou-se, abrindo um dos pacotes, enquanto Patrícia entregava o de Otto e se sentava ao
Julia foi para o banheiro, e Otto arrumou suas coisas. Separou roupas, sapatos, bolsa, guardou a câmera e os filmes com bastante cuidado. Após deixar tudo separado e organizado, sentou-se na cama e aguardou o retorno de Julia.Quando ela saiu do banho, conferiu o que Otto havia feito, deu um leve sorriso, demonstrando que gostou, e sentou-se ao lado dele.— Obrigada — agradeceu.— Eu não quero que nada mude, mesmo sabendo que, depois do que rolou, é impossível continuarmos os mesmos. Mas acho que o correto não é não querer que nada mude... e sim não perder você — falou olhando nos olhos dela. — Você é minha melhor amiga, a gente faz praticamente tudo junto. É para você que eu corro para desabafar e contar sobre meu dia.Inclinou o corpo um pouco mais para a frente e passou a mão no rosto de Julia, que sorria tímida, mas atenta a tudo que ele dizia e fazia. Otto estava sendo sincero e se esforçava ao máximo para expressar o que sentia.— Eu ame
Era noite, e a chuva caía forte quando uma mulher foi trazida ao hospital. Seu estado era grave. Passou por várias cirurgias, mas estava demorando para acordar.Por sorte, seu marido também havia dado entrada no hospital e pôde contar um pouco do que aconteceu.— A gente bateu o carro, ela saiu de um lado e eu de outro. Quando vi, já tinha acontecido. Foi muito rápido — disse ele, visivelmente abalado.Dias se passaram até que, finalmente, ela abriu os olhos, com muito esforço. Olhou o ambiente com calma: quarto branco, janelas grandes com persianas. Lá fora, a chuva caía forte. Um trovão a fez levar um susto, e ela fechou os olhos por um instante, antes de abri-los lentamente novamente.Começou a observar o local com mais atenção, tentando reconhecer onde estava. Viu uma porta. À frente da cama, uma cômoda. Acima, na parede, uma TV estava ligada, exibindo algum programa infantil. Virando-se um pouco, notou outra porta, desta vez aberta. Lá fora, algumas pessoas passavam — pareciam mé
A noite estava escura, e a chuva caía forte, como se nunca fosse parar.Raios e trovões cortavam o céu, enquanto os galhos das árvores balançavam violentamente com a força do vento. A natureza exibia toda a sua fúria de maneira incansável.Julia estava acordada, sozinha no quarto, observando a tempestade implacável pela janela. Deitada em sua cama no quarto de hospital, sentia-se pequena diante da força da natureza.De repente, um raio caiu lá fora, iluminando todo o quarto. O clarão fez Julia sentir um arrepio subir pela nuca.— Que sensação estranha... — falou Julia, pensativa. — Parece que já vi isso antes...— Déjà vu. — Disse uma voz doce e feminina. — Quando temos a sensação de já ter visto ou vivido algo, chamamos de déjà vu. — concluiu.A mulher entrou no quarto, verificou se a janela estava bem fechada e, em seguida, virou-se para Julia com um sorriso amigável no rosto.— Eu sou a Pérola, sou nova aqui. Sou a enfermeira do turno da noite.Pérola tinha cabelos longos, loiros c
Era a primeira noite de Pérola como enfermeira no hospital, e coincidentemente, Julia havia dado entrada naquela mesma noite chuvosa. A tempestade era semelhante à de agora: muita chuva e ventos fortes.No hospital, o clima era de expectativa. Com temporais assim, era comum o registro de várias ocorrências. Árvores caíam, a pista ficava cheia de poças e a visibilidade nas estradas era quase zero, criando condições perfeitas para acidentes.Apesar disso, o hospital estava calmo no início da noite. Durante o dia, vários pacientes haviam recebido alta ou sido transferidos. Sendo um hospital especializado em traumas, ele era sempre a primeira opção para socorros emergenciais.Pérola havia acabado de verificar alguns pacientes ao lado da enfermeira-chefe, que fazia questão de lhe apresentar o hospital e os colegas atarefados. A apresentação foi breve, pois, ao chegarem à emergência, notaram que o espaço começava a se encher de médicos e equipes aguardando a movimentação que o temporal prom
O primeiro a entrar em ação foi o doutor Cole, o neurocirurgião. Ele analisou a tomografia rapidamente antes de começar. A pressão intracraniana estava alta, um risco que não podia ser ignorado. Com movimentos firmes e precisos, realizou uma descompressão para aliviar a pressão, enquanto sua equipe o assistia com total atenção. O suor começava a aparecer em sua testa sob o brilho intenso das luzes cirúrgicas, mas Cole mantinha o foco.— Certo, isso deve estabilizar. Vamos verificar mais alguma coisa. — murmurou para si mesmo, enquanto inspecionava a área com cuidado.Após confirmar que não havia danos adicionais ao sistema nervoso central, Cole finalmente respirou aliviado. Ele se afastou da mesa cirúrgica e olhou para a doutora Martin, que já estava pronta para assumir a próxima etapa.Doutora Martin entrou em ação com a precisão de uma artesã. As fraturas expostas eram graves, mas não intimidavam a experiente ortopedista. Ela começou reconstruindo as estruturas ósseas da perna, util