Na manhã seguinte, ele fez o que havia prometido: buscou Julia e foram juntos à faculdade. No trajeto, foi carinhoso e gentil — acariciou o rosto dela, suas mãos, e pousou a mão em sua perna de forma suave.
Ao estacionar o carro, inclinou-se em sua direção e lhe deu um beijo. Ela correspondeu. O beijo foi esquentando, e logo ele desceu a mão, acariciando seus seios, sua barriga—E acordou.Foi um sonho. Real, intenso, mas apenas um sonho. Ainda deitado na cama, Matthew cedeu novamente aos desejos que se tornavam cada vez mais fortes."Ela nunca vai me querer desse jeito... Mas eu posso fazer ela querer.”Estava certo do que queria — e não pretendia desistir tão cedo.Vestiu-se às pressas e saiu de casa com o coração acelerado.Dirigiu como se cada segundo fosse precioso. A ideia de não conseguir um momento a sós com Julia o deixava inquieto.Ao chegar à porta da casa, ele buzinou. Julia saiu com pressa.— NãMatthew ficou plantado na porta de Julia por horas. Quanto mais o tempo passava, mais furioso ele ficava. O ciúme e o desejo de posse nublavam sua mente.Enquanto esperava alguém surgir, imaginava, planejava seus passos e tudo o que poderia acontecer. Queria estar à frente de tudo.Sua mente o levava sempre para frente, para o futuro. O atormentava com a possibilidade de não tê-la, trazia imagens dele vitorioso.Era uma grande confusão — e ele estava cada vez mais imerso nela.Já estava quase anoitecendo quando um carro estacionou logo atrás.Matthew estava do lado de fora, encostado no próprio carro, lendo um jornal. Estava cansado de ficar sentado esperando. Quando olhou para o veículo que acabara de chegar, viu claramente Otto no volante — e Julia ao seu lado.Sua mente começou a turvar. O desejo de atacar Otto se intensificou.“Eu podia acabar com ele agora mesmo.” — pensou.“Esmurrá-lo até que não sobrasse nada.”A porta d
O cemitério estava cheio. Lin era muito conhecida e querida por todos.Vizinhos, amigos, familiares, professores — todos estavam lá.A banda em que ela tocava prestou uma homenagem, tocando a música que ela mais gostava.Julia deu alguns passos à frente, parando ao lado do caixão. Os olhos inchados, o rosto marcado pela dor. Não havia microfone, apenas silêncio. Um daqueles silêncios que gritam.Ela respirou fundo, tentando conter o tremor da voz.— Eu nunca pensei que um dia teria que dizer adeus assim... não a você, Lin.Fez uma pausa, encarando as flores sobre o caixão.— A gente cresceu juntas. Dividimos brinquedos, segredos... e até o medo do escuro. Você dizia que o mundo era grande demais para gente se esconder. E me puxava pra vida, me fazia rir quando tudo doía. Me fazia levantar quando eu achava que não conseguiria.Um leve sorriso atravessou seu rosto, breve como um sopro.— Eu lembro de quando a gente
Matthew estacionou o carro e olhou para Julia, que estava no banco de trás. Ela permanecia parada, encarando o nada. Demorou alguns segundos até perceber que já haviam chegado em casa. Ao seu lado, Allan também parecia não saber como agir diante daquela situação.Julia piscou algumas vezes, como se voltasse à realidade.— Fica — disse para Matthew, com a voz chorosa.— Claro — respondeu ele, com um sorriso doce.Julia repousou a cabeça no ombro de Matthew, que logo começou a acariciar seu rosto.Com ela, ele demonstrava um carinho verdadeiro, mesmo que sua mente estivesse mergulhada em ilusões.Sentia o cheiro do cabelo dela, a pele macia, levantou o queixo dela e olhou-a nos olhos. Não havia mais lágrimas, mas era notória sua fragilidade. Ele sabia que esse era o momento perfeito para avançar, tinha que aproveitar a situação. Mas, dessa vez, foi Julia quem avançou. Beijou-o, demonstrando desejo. Matthew correspondeu com intensid
Os dias se passaram, e Matthew cercava cada vez mais Julia, aproveitando-se de cada oportunidade.Era sutil quando havia plateia, mas, a sós, avançava feito uma raposa — astuto, cauteloso, frio. Quem percebia suas ações acabava enganado por ele. Era muito bom de lábia.— Matthew, não acha que está avançando demais? Julia não está bem, tá claro como água, e você não desgruda, vive em cima. — disse Allan, certa vez.— E você prefere que ela fique sozinha, mergulhada em culpa e pensamentos ruins? — respondeu Matthew. — Olha, cara, eu gosto dela. Nunca passei por algo assim. Eu também gostava da Lin... eu não sei lidar com isso, e juntos esquecemos um pouco de tudo.— Mas não é o que parece. Você age como se quisesse ela só pra você. Parece que quer afastá-la de todo mundo. Isso também não é bom. A Julia tem várias pessoas que a amam e querem o bem dela.— Allan, eu sei o quanto você se preocupa com ela. Mas ela me procura. Se ela não está buscand
De pazes feitas, tudo foi voltando ao normal.O ano letivo já estava acabando, as provas finais haviam sido feitas, e agora restava apenas aguardar o resultado — todos ansiosos. Matthew já ia se formar, enquanto Otto, Julia e Allan teriam que esperar mais um ano.— Você vai me acompanhar na minha formatura, né? — perguntou Matthew a Julia.— Claro! — respondeu animada. — Até porque alguém tem que fazer companhia ao Otto — apontou para ele, rindo.— Bom saber que lhe causo compaixão — respondeu Otto, com um leve sorriso sarcástico.Julia e Otto continuaram se alfinetando, enquanto Matthew os observava de cara fechada."Sempre o Otto."Pensamentos amargos surgiam, mas foram quebrados pelo abraço inesperado que Julia lhe deu.— Desamarra essa cara, você sabe que passou — disse, achando que a preocupação era com as notas.— Desculpe... eu realmente estou preocupado — mentiu ele.— Vamos dar uma volta? Você precisa relaxar — sugeriu ela.— Boa ideia. Você vem, Otto?— Não, não. Mas valeu —
Grace saiu da casa com passos firmes. Logo atrás vinha Otto, que conseguiu ultrapassá-la, chegando ao carro e abrindo a porta para que ela entrasse.Julia ainda chorava, e Patrícia, assustada, não sabia mais o que fazer. Melhor mesmo era colocar a menina no carro e seguirem para casa.O trajeto foi marcado por um silêncio que gritava melancolia e ira.Já passava das 20h quando chegaram à residência dos Evans. Ao descerem do carro, Matthew os viu da janela. Olhou para o relógio — já havia passado da hora do encontro — e se enfureceu.— Nem mesmo uma ligação ela fez... — murmurou, irritado.Continuou observando da janela até que todos sumissem de vista. Em seguida, saiu do quarto e foi para a sala beber alguma coisa enquanto tentava organizar os pensamentos.O grupo entrou na casa e seguiu direto para a cozinha, onde Otto foi preparar um chá. As três mulheres se sentaram em silêncio.— Ok, vocês agora estão em um ambiente tranquilo
O dia seguinte chegou rápido. Otto se levantou, se arrumou e foi até o quarto de Julia. Bateu na porta, esperou alguns segundos e entrou, abrindo-a com cuidado. Sentou-se na ponta da cama, puxou um pouco o lençol e afastou os cabelos que cobriam o rosto dela — inchado de tanto chorar.Otto respirou com pesar. Fez um carinho em seu ombro, tentando acordá-la. Foi um pouco difícil, mas ela finalmente abriu os olhos e o fitou, revelando todo o tormento que a consumia.Otto podia sentir os sentimentos dela, cada vez mais intensos. Sentia-se envolto por uma nuvem de infortúnio, revelada naquele olhar pesado. Colocou a mão em seu rosto — um gesto de carinho que fez uma lágrima escorrer. Julia respirou profundamente, como se cada parte do corpo doesse. Virou-se para o lado e soluçou.— Vou pegar nossos resultados, não se preocupe.Subiu o lençol até a altura em que estava antes de tocá-la e saiu do quarto em silêncio.Foi para a faculdade a pé. E
Julia comeu mais do que Otto esperava. "Com certeza é ansiedade"Pensou, enquanto a observava comer.— Acho que comi demais — confessou.— Tu jura?! — riu Otto. — Vai, me dá isso aqui.Otto tomou das mãos de Julia o prato com o sanduíche que ainda restava, além do que ela segurava na outra mão. Ela estava totalmente saciada. Deitou-se na cama e ficou ali, olhando para o teto.— Que foi? — perguntou Otto.— Não consigo tirar o que ela falou da cabeça.— Sai dessa — interrompeu.— E se ela tiver certa?— Olha, eu sei que toda essa situação é uma merda, ninguém sabe o que fazer, mas te acusar passa de todos os limites, independente da dor dela.— Mas, Otto...— Julia, por favor, não entra nessa, por favor.Ele se levantou, colocou tudo sobre a penteadeira e voltou para a cama.— Culpa de quê você teria nessa história toda, hã?— Mas... — as respostas não vinham.— Me diz, estou esperando.— Ela acha que sou culpada porque a Lin me levou para sair. Ela planejou isso desde que cheguei, qu