Ainda sinto o gosto metálico da noite anterior na boca quando retorno ao galpão onde prenderam Phillip. A luz é fria, cortante; o odor de óleo e poeira impregna tudo. Caminho entre sombras que parecem sussurrar lembranças, e minha respiração vem pesada — não apenas por ter viajado todo o dia, mas pela sensação de que algo definitivo se anuncia.
Dante está à minha espera perto da cadeia improvisada. A presença dele impõe silêncio: não é apenas a postura do homem de negócios, mas a presença de quem carrega sangue antigo e contas por acertar. Olho para Phillip. Ainda acorrentado, tenta manter a arrogância, mas a máscara racha nos cantos dos olhos. Há músculos enrijecidos, um corpo que deu sinais de desespero, e a pele pálida sob a luz crua revela mais do que palavras.
Dante aproxima-se com passos controlados. A voz dele não perde a compostura quando me cumprimenta. Sinto um leve aperto no peito: há uma concretude na frase que não admite dúvidas.
— E