POV Elena
A dor não vinha em ondas. Era uma lâmina contínua, rasgando de dentro para fora. Cada sacolejo da maca fazia o sangue escorrer mais rápido entre minhas pernas. Eu sentia o tecido úmido, quente… e sabia o que isso podia significar.
Não. Não agora.
O cheiro de ferro era tão forte que parecia subir pela garganta, me sufocando mais do que a máscara de oxigênio que prendiam sobre meu rosto. As luzes da ambulância piscavam contra as paredes internas, um vermelho que me cegava, que se misturava com a sensação de urgência.
— Respira fundo, Elena — a voz do paramédico cortou meus pensamentos. Jovem, mas firme. — Estamos quase lá. Segura.
Segurar. Como se fosse simples. Como se eu pudesse apertar o ventre com força suficiente para impedir o inevitável. Minha mão não saía da barriga, como se meus dedos fossem barreiras contra o destino. Fechei os olhos e, por um segundo, imaginei o rosto do meu bebê. Nunca o vi. Não sei se é menino ou menina. Só sei que é meu. Meu. E que, se eu perder…