POV Isadora Ferraz
Entrei em casa e o silêncio me acertou como um tapa gelado. A mansão parecia maior, mais oca, mais... perigosa. Os funcionários desviavam o olhar. Um deles se atrapalhou com uma bandeja, quase deixou tudo cair. Outro fingiu arrumar um vaso que nem estava torto. Eu continuei andando.
Heitor estava na sala, sentado na poltrona como um rei destronado. A mão segurava um copo de uísque, mas os dedos tremiam. Quando me viu, ele levantou devagar. O rosto vermelho. O maxilar travado.
— Onde você estava até agora? Já passou 2h do horário que você larga, Isadora! — A voz saiu baixa. Baixa demais.
Eu larguei a bolsa no sofá.
— Estava no trabalho.
Ele riu. Um riso curto, cortante.
— Trabalho. Você acha que eu sou idiota?
— Não, Heitor. Eu tenho certeza.
O copo voou contra a parede. O som do vidro se espatifando ecoou como um tiro.
— CUIDADO COM O QUE FALA COMIGO!
— Cuidado? — Eu avancei, os olhos em chamas. — Eu passei anos da minha vida com cuidado. Cuidado para não te irritar,