~Na voz de Clara~O dia amanheceu lindo, banhado por uma claridade suave que entrava pelas janelas. Os pássaros cantavam lá fora como se celebrassem meu simples fato de estar viva. Já estávamos com as malas prontas para voltar a Nova York. Mais de um mês na França… e, por mais que Lorenzo quisesse prolongar meus cuidados e atenção, eu finalmente estava recuperada.Vesti um vestido leve de tecido branco acetinado, com alças finas e um caimento delicado na cintura. A saia, solta e fluida, balançava conforme eu caminhava. Era um vestido simples, fresco, confortável — o tipo de roupa que me fazia sentir leve depois de tudo o que havíamos passado.Descemos as escadas juntos. Ethan já tinha vindo buscar nossas malas e nos acompanharia até a pista para trazer o carro de volta. Nos despedimos de Pierre e Hélène com abraços fortes, os olhos marejados deles e meu coração apertado de gratidão.Wagner nos acompanharia até Nova York. Mesmo ainda estranhando a ideia de andar com segurança o tempo i

~Na voz de Lorenzo~Os dias em Nova York seguiam cansativos, mas ainda sob meu controle — como tudo sempre esteve nas minhas mãos. O tempo acelerava, quase impiedoso. A exposição da Maison precisou ser adiada por mais alguns dias, e Clara, dentro de uma semana, entraria no sétimo mês de gestação. Continuávamos na cobertura do Plaza, mas meus planos haviam mudado.Decidimos que nosso filho nasceria ali, e eu precisava garantir um lugar definitivo para sua chegada. Depois de conversar com Alerrandro, tomei a decisão: compraria a cobertura do Plaza. Pedi que Alerrandro providenciasse o projeto do quarto do bebê, tudo em tons neutros.— Eu quero algo acolhedor, Alerrandro. Conforto, segurança… mas nada comum. Quero algo digno de um herdeiro Bianchi — expliquei.Ele assentiu, como sempre eficiente.— Hoje mesmo providencio alguns projetos.— Preciso de dois, na verdade. Um para a cobertura e outro para nossa casa no Joá.— Perfeito, Lorenzo. Te envio ainda hoje.No escritório, definimos q

O dia amanheceu devagar, abrindo os olhos sobre Nova York com uma luz suave que entrava pelas cortinas do Plaza como quem pede licença. Mesmo desperto, permaneci na cama por alguns minutos, deixando meus pensamentos circularem livremente. A pergunta insistente voltava como uma maré: será que aquela cobertura seria nosso lar fixo? Não apenas um endereço — um porto definitivo.Levantei quando Clara ainda dormia profundamente, entregue, com o rosto tranquilo iluminado pelo nascer do dia. Enquanto preparava o café no celular, respondi algumas mensagens. Entre elas, uma da minha mãe, incomodamente afetuosa, falando sobre saudades. Era estranho perceber as pequenas mudanças nela, como se algo dentro dela estivesse sendo reconstruído, ainda que lentamente.Tomei um banho rápido, vesti uma camisa leve e liguei para Alerrandro, que já me atualizava sobre os preparativos finais da exposição da Maison Bianchi. No notebook revisei contratos, imagens, textos — minha atenção permanecia afiada, porq

O dia amanheceu no Joá com aquele perfume salgado que só o mar sabe carregar. A casa ainda estava silenciosa quando desci as escadas; Clara dormia profundamente, o rosto sereno, entregue à calma que ela sempre teve.— Bom dia, senhor Lorenzo. Já posso mandar servir a mesa? — perguntou Eugênia, surgindo na cozinha.— Ainda não, Eugênia. Clara ainda dorme — respondi, seguindo para a área externa.O sol nascia como se brotasse do próprio mar, dourando o horizonte. Caminhei pelos jardins até encontrar Sebastião ajeitando algumas roseiras.— Bom dia, senhor. Não esperava vê-lo por aqui tão cedo — disse ele.— Bom dia, Sebastião. Meu lugar sempre vai ser aqui — sorri — mesmo que a rotina insista em me jogar pra longe.Segui até a piscina. A borda infinita se perdia no oceano, como se o quintal continuasse mar adentro. Tirei a camisa e mergulhei. A água fria da manhã me envolveu e levou com ela o peso dos últimos dias.Não sei quanto tempo fiquei ali. Só percebi quando ouvi passos leves. Cla

Os dias no sítio se seguiram melhor do que eu imaginava. Havia uma serenidade naquela rotina que me fazia respirar diferente, mais fundo, como se por alguns instantes eu pudesse existir fora da correria que sempre marcou minha vida. Clara, os pais dela, os irmãos… todos me tratavam com um carinho natural. E assim passaram quinze dias, até que finalmente chegou o dia de voltarmos ao Rio.Acordei com o cantar do galo. Clara ainda dormia. Fiquei ali, apoiado no travesseiro, deslizando o dedo pela tela enquanto olhava as fotos que Alerrandro me enviava — algumas mansões imponentes, outras mais modernas, todas luxuosas, mas nenhuma próxima o suficiente de Manhattan para atender ao que eu buscava.Até que, por fim, chegou a foto de um triplex: The Apex.A cobertura era o extremo do luxo contemporâneo. Três andares inteiros de vidro antirreflexo que deixavam a cidade aos pés; escadas suspensas de mármore; living com pé-direito duplo e lareira linear embutida; elevador privativo que abria dir