Voltei ao hospital no dia seguinte, como fizera em todos os outros. Fiquei no corredor, encostado na parede fria, ao lado do vidro, vendo o Matt lá dentro, de mãos dadas com ela, falando baixo. Os lábios da Margo se curvavam num meio sorriso cansado; de vez em quando, ele ria de algo que só eles sabiam. O bip dos monitores marcava um compasso quase doméstico, e o reflexo da luz no soro traçava um risco de prata até a agulha na mão dela. Deixei que esse quadro me doesse e, ao mesmo tempo, me aliviasse: ela estava viva, presente, ouvindo, sentindo; os dois estavam ali, inteiros. Isso é o que importa. Eu não entrei. Aprendi, finalmente, a ficar do lado de fora quando não sou chamado.Uma auxiliar passou empurrando um carrinho de medicação, o cheiro de cloro e café velho subiu do piso encerado. No fim do corredor, a TV sem som mostrava manchetes sobre trânsito na FDR e chuva no Brooklyn. Era fim de tarde; o céu de Manhattan começava a ficar cinza chumbo, e as janelas do East Side se acend
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