Os dias seguintes viraram rotina de penitente. Toda manhã eu ia para o hospital, mesmo sabendo que a minha presença não era bem-vinda. O Matt não escondia; Emma e Charlotte fingiam que eu era vidro. Ninguém me dava boletim, ninguém respondia nada. Eu via a Margo de longe, por trás do painel de vidro da UTI: olhos sempre fechados, ventilação silenciosa, máquinas apitando em cadência. Os médicos diziam que ela podia acordar “a qualquer momento” — uma expressão larga demais para quem conta segundos.
No fim da tarde, sempre a mesma enfermeira — meia-idade, coque bem preso, um crachá torto — passava por mim com um sorriso doce, que era meio consolo, meio ordem.
— Vá descansar em casa, meu filho.
Eu obedecia. Voltava para o apartamento, agora sem móveis no escritório — minha mãe mandara tirar tudo o que eu esmigalhei —, e me sentava no chão com uma garrafa. O skyline do East Side recortava a noite sem estrelas. Carros corriam na FDR; as casas de festa da 2ª Avenida roncavam DJ no meio da se