As duas me estudaram.— Quero saber se ele está bem — continuei. — A última vez em que o vi… ele parecia destruído. Por tudo. Por nós. — Suspirei, vencida. — Independente de qualquer coisa, eu sinto pena.— A última vez que você o viu foi aqui — Llote supôs.— Não. — Sorri, amarga. — Acordei no hospital ouvindo a voz dele.— Você lembra? — Llote arregalou os olhos. — Eu achei que você estava grogue.— Lembro. — Olhei para o chão. — E preferia não lembrar. Ele disse que me ama. Que eu nunca fui “a outra”. Tudo aquilo que um dia eu quis ouvir.Emma respirou, como quem decide algo.— Eu vi o Misa no berçário — confessou. — Com o Liam e a Becah.— Emma! — Llote a repreendeu.— O quê? Ela precisa saber.Meu coração deu dois saltos.— “Viu” como?— Ele pegou os dois no colo — Emma contou, com cuidado. — Falou baixo, como quem se despede. Disse que provavelmente nunca mais veria os dois. Que você não deixaria, e que seria melhor assim. “O Mathew vai ser um pai bem melhor do que eu”, ele diss

“Não faça essa cara.” Era o tipo de pedido que a gente fala pra si mesma e que não obedece.— Mag! — Abi surgiu com o Aiden ao lado. — Desculpa, me perdi. Ele me achou.Aiden me cumprimentou com um sorriso caloroso. Se inclinou para falar com a Becah; ela sorriu de volta.— E aí, cara — ele disse para o Misa, num tom que revelava conhecimento antigo.— E aí — Misa respondeu, com simpatia contida.— Como vão os negócios? — Aiden perguntou, casual.— Microempresa sempre encontra um espaço — Misa devolveu, enigmático como de costume.— E você tem nome, vai se erguer — Aiden replicou, agora mais atento à Becah, que agarrava o dedo dele.“Microempresa.” Eu o encarei, surpresa.— Você saiu da Patinks? — perguntei, sem me conter.— Faz alguns meses — respondeu, ainda com os olhos no meu… na Becah.— Por quê?Ele olhou rápido para a porta do estúdio, onde a Angel surgia com o Liam no colo.— Por vocês — disse apenas. E não explicou.A Abi pegou o Liam e, nesse pequeno movimento, quando virei

— Aconteceu alguma coisa? — ele pergunta como se nada de errado estivesse acontecendo com ele. — Onde estão os gêmeos? — a preocupação atravessa o tom contido.Eu teria um mundo de perguntas, mas engulo tudo. Se não fosse por toda essa gente aqui, eu abraçaria o Misa. Estou com medo do pior, e é ridículo admitir, porém eu nunca tinha visto meus filhos doentes.— Não — minto, desviando o olhar. — E com você?— Comigo, nada. — Ele também mente, tomando um gole do café, o copo de papel rangendo entre os dedos.— Você já mentiu melhor. — Consulto o relógio só para fazer alguma coisa com as mãos.— Somos dois, então. — O canto da boca sobe, mas os olhos continuam cansados.Ok. Não dá para mentir pra ele — e, sinceramente, pra quê? Se eu já o perdoei por tudo, não preciso fazer papel de pedra.— Eu trouxe a Becah. Nada demais. — Tento parecer calma. — E você?A testa dele franze. Ele corrige a si mesmo no meio da frase:— Sua cara não diz “nada demais”. Aconteceu alguma coisa com a… — engole

A semana passou como um borrão — e, ainda assim, arrastada. Entre a rotina de nebulização duas vezes por dia, o barulho chato do compressor que os dois odeiam e a paranoia com poeira em qualquer canto, virei uma espécie de síndica da própria casa. Arrancamos o carpete do quarto, trocamos cortinas por blackouts laváveis, encapei colchões com capas antialérgicas e virei leitora compulsiva de bula: nada de leite, nada de trigo, muito menos amendoim ou frutos do mar no meu prato. De madrugada, acordo no susto e vou até o berço, a mão no peito deles, conferindo a respiração como quem checa o pulso do mundo.Os exames do Liam confirmaram o que a pediatra já desconfiava: o mesmo combo da irmã, só que silencioso por enquanto. Tive que aprender a conviver com isso — e com uma ausência que abriu um buraco na agenda: a Abi. Seis dias sem aparecer, celular fora de área, a agência não informa endereço por “política interna”. Não é do feitio dela sumir. Rezo para ser só um contratempo. Rezo e não du

Meu coração bate mais forte. Meu pai não contou essa parte.— Quando o Antony reapareceu, inventou “viagem a trabalho” por causa da candidatura…— Candidatura? — quase engasgo. — Ele conseguiu?— Tá em todos os jornais. Democratas. Espero que perca — ela reza teatral. — Mas o babado bom: o Misa entrou feito furacão, magro, olheira, foi direto pra sala do Antony. Eu estava lá — confessa, orgulhosa. — Mandou eu sair. Saí… e colei a orelha na porta, né.— Óbvio — sussurro, grudada.— Eu juro, foi assim mesmo: o Misa entrou feito furacão na sala e já soltou um “voltou, seu covarde?”. O Antony ficou mudo. Aí o Misa: “Você me prometeu: se eu me casasse com aquela vadia, você não tocava nela.” E o Antony, seco: “Cumpri minha parte.” Nessa hora, o Misa deu um soco na mesa — juro, a mesa virou farofa — e mandou: “Não seja cínico. Você contratou o Fred pra matar ela — grávida!” O Antony continuou quieto. Então veio mais: “Você queria o quê? Que saísse na mídia que o futuro governador tem neto b