Desligo o carro e o ar frio me corta o rosto assim que abro a porta. O céu já ganhou aquele tom de chumbo típico do fim de tarde em Manhattan no inverno. Abro a porta de trás e retiro o Liam, embrulhado numa manta de lã até as bochechas. A Abigail pega a Becah com o mesmo cuidado. Os dois parecem dois rolinhos de pano — gorro, luvas, macacão acolchoado — culpa minha e da pediatra, que repetiu “nada de friagem” três vezes.
Tínhamos acabado de voltar da primeira consulta: peso subindo, pulmão limpo, reflexos bons. Hepatite B aplicada — doeu mais em mim do que neles. A Abi, de olhos claros marejados, quase chorou junto quando a agulha entrou.
— Tá frio, meu amor — sussurro pro Liam, que puxa um chorinho sentido.
— Eu levo ela lá pra dentro — a Abi se adianta, abraçando a Becah e a bolsa de trocas.
Entramos na casa dos meus pais com aquele calor de calefação que abraça. A TV sussurra um telejornal na sala; minha mãe dorme no sofá, boca entreaberta, quase babando — a cena mais humana do di