A audiência havia terminado, e os dias seguintes trouxeram uma espécie de calmaria estranha. A Casa Raízes continuava em movimento, como sempre, mas Clara percebia que, pela primeira vez em muito tempo, o silêncio do fim de tarde lhe pertencia. O corpo ainda exigia descanso, e o coração parecia implorar por outra coisa: um espaço onde pudesse ser apenas mulher, não líder, não símbolo, não raiz.Miguel era quem preenchia esse espaço. Nos últimos meses, ele permanecera ao lado dela de forma discreta, quase invisível. Carregava sacolas, preparava chás, dirigia nas viagens, sempre sem cobrar nada em troca. Mas agora, com o peso da responsabilidade um pouco mais distribuído entre Júlia e Luana, Clara começou a enxergá-lo de outra maneira.Numa noite, depois de um longo dia na Casa, Miguel a encontrou sentada no jardim, olhando para as estrelas. Aproximou-se em silêncio, mas ela sentiu sua presença e sorriu.— Você não cansa? — perguntou ela, a voz suave. — De estar sempre atrás de mim, car
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