A manhã começara clara e fresca, o céu pintado de tons suaves que anunciavam o verão. Clara acordou cedo, o coração leve como há muito não sentia. A audiência de apelação ficara para trás, e, apesar da tensão que ela causara, a sensação agora era de libertação. Adriano gritara, insultara, tentara se agarrar a qualquer narrativa, mas, no fim, não passara de um homem algemado que já não inspirava medo.Miguel ainda dormia, o rosto tranquilo, um braço solto sobre o travesseiro. Clara o observou por alguns instantes, em silêncio. Havia ternura ali, mas também responsabilidade. A vida, pela primeira vez, lhe oferecia a chance de criar algo sólido, algo que não estivesse enraizado na dor.Levantou-se devagar, preparou café e abriu o caderno. Nas páginas anteriores, estavam registradas suas cicatrizes; agora, ela queria escrever sobre sementes."Aprendi a sobreviver. Aprendi a lutar. Agora quero aprender a ficar. Quero criar raízes, não correntes. O futuro não pode ser apenas fuga; precisa s
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