A fratura havia recuado, mas deixou marcas invisíveis. O santuário respirava em silêncio, como se cada pedra estivesse tentando lembrar quem era. E Aether, agora desperto para seu papel, começou a ouvir não apenas o Observador, mas também os ecos da fé que o mundo ainda guardava. Ele caminhava entre os corredores como quem recolhe fragmentos de alma. Cada toque, cada olhar, cada palavra parecia gravar algo em sua essência. Mas ele não buscava poder. Ele buscava propósito. Então em busca dopropósito que ele tanto ansiava decidiu sair para conversar com as pessoas que vivan no santuário. A primeira a receber sua visita foi Lyra. Aether encontrou Lyra no campo, observando Maya de longe. Ele se aproximou devagar, sentindo o vazio entre elas. — Você abriu mão de algo que ninguém viu, ele disse. — E mesmo assim, continua aqui. Lyra olhou para ele, surpresa com a clareza em sua voz. — Porque o amor não precisa ser lembrado para existir. — E a dor... bem, ela me lembra que val

A celebração no santuário havia deixado para trás um eco de alegria, mas também uma sensação de vulnerabilidade. A conexão que todos sentiram parecia ter aberto não apenas os corações, mas também portais para algo mais profundo e mais perigoso. Na manhã seguinte, o ar estava carregado de uma energia diferente. O céu, antes límpido, agora apresentava nuvens escuras e distantes, que não se moviam com o vento, mas sim como se observassem. Aether foi o primeiro a notar. — Ele sentiu nossa felicidade, disse baixinho com seus olhos fixos no horizonte. — O Devorador não gosta de luz que não pode corromper. Scarlet, Kieran e Rafael reuniram-se no centro do pátio. As marcas de Scarlet pulsavam suavemente, como se alertassem para um perigo invisível.

A paz que se seguiu à partida do Devorador não era a mesma de antes. Não era a paz ingênua da ignorância, mas a paz profunda e um pouco cansada de quem sobreviveu a uma tempestade e sabe que o mundo foi rearrumado por ela.O santuário estava em silêncio. Não o silêncio vazio do medo, mas o silêncio reverente do luto e do renascimento. As pessoas se moviam com uma suavidade cautelosa, como se temessem perturbar o equilíbrio recém-adquirido.Scarlet não soltou Luna e Kael por horas. Ela os embalou, cantarolando uma canção antiga que sua mãe humana, Gabriele, cantava para ela. As novas marcas cinza prateadas nas crianças pulsavam com uma luz suave e constante, como a luz de uma estrela distante. Elas não choravam, não agitavam. Estavam serenas, seus olhinhos observando o mundo com uma sabedoria que não era de bebês.— O que ele deixou neles? — Rafael perguntou baixnho, observando os filhos com uma mistura de admiração e preocupação.— Não é escuridão, respondeu Kieran com sua voz grave e

A inquietante mensagem de Luna ainda pairava no ar, mas uma decisão silenciosa tomou conta de Scarlet. A maior resistência que poderiam oferecer era fortalecer o que tinham: uns aos outros. E viver o hoje, aproveitando cada momento que tiverem juntos e quando novos desafiam surgirem eles estariam prontos, juntos e fortalecidos.No pátio, sob o sol da tarde, Maya e Luan brincavam com as crianças. Luna e Kael, agora mais estáveis, estavam deitados sobre um cobertor macio. De repente, Luan fez sombras de animais com as mãos na parede. Ao projetar a sombra de um lobo, Luna riu, um som cristalino. No mesmo instante, a sombra na parede ganhou vida, separou-se da projeção de Luan e correu ao longo da pedra como se fosse real, antes de desaparecer. Assustado, Luan olhou para suas mãos. Kael, então, balbuciou, e um pequeno orbe de luz prateada surgiu entre suas mãozinhas, flutuando suavemente antes de pousar no nariz de Luna, fazendo-a rir novamente. Não era poder consciente; era uma extensão

A Alcateia do Amanhecer Prateado respirava agora com um pulso mais forte e diverso. Os novos membros trouxeram não apenas habilidades, mas histórias que se entrelaçavam às já existentes, criando uma tapeçaria social mais rica e complexa. A paz, porém, não era isenta de desafios. Ela simplesmente trocava as armas físicas por conflitos da alma, que precisavam ser resolvidos com palavras e compreensão. O primeiro desses desafios surgiu entre Lyra e Logan. O treinamento de Maya havia se intensificado, e a jovem loba demonstrava um potencial que beirava o prodigioso. No entanto, suas abordagens divergiam radicalmente. — Ela precisa ser mais rápida! Mais agressiva! argumentava Logan, observando Maya desviar de uma chuva de projéteis de energia controlada durante um exercício. — O mundo lá fora não vai pegar leve com ela. Temos que prepará-la para o pior. — E eu acho que você está sufocando sua luz com tanta sombra