Genebra vestia-se de festa. Faltando poucos dias para o evento mais comentado do ano, as ruas próximas ao Lago Léman estavam decoradas com bandeirolas brancas, enquanto carros de luxo circulavam com discretos adesivos do casal que dominava as manchetes: Matteo Eisenberg e Isabelle Marchand. As revistas de sociedade já disputavam espaço nas bancas com capas estampando o enlace, e os bastidores do grande dia fervilhavam em cada canto da cidade.A cerimônia foi marcada para o salão principal do lendário Four Seasons Hotel des Bergues, à beira do lago, sob colunas neoclássicas que guardavam uma visão arrebatadora dos Alpes. O altar fora instalado em um túnel de cristal suspenso a três metros do chão, cercado por milhares de rosas brancas e lírios-orientais. Um sistema delicado fazia com que pétalas caíssem do teto como uma chuva suave e contínua, emoldurando o cenário com um toque onírico. O corredor central, forrado por um tapete de palha de seda, era ladeado por cadeiras de acrílico tra

A brisa de Paris era leve naquela manhã em que Matteo e Isabelle desembarcaram, com os olhos brilhando como se o mundo tivesse parado só para eles. O céu nublado emprestava um charme sereno à cidade, e o vento, que soprava entre os prédios antigos, parecia celebrar o início daquela lua-de-mel que prometia mais do que viagens — prometia cura.Abraçada ao braço de Matteo, Isabelle sentia o coração acelerar toda vez que vislumbrava, ao longe, a silhueta imponente da Torre Eiffel. Ele sorria para ela com ternura e, vez ou outra, a beijava de leve na têmpora, como se dissesse, sem palavras, que ela era tudo o que importava.— É a nossa primeira parada — murmurou ele, ao desembarcarem as malas no saguão do hotel boutique em Saint-Germain.O lugar era acolhedor, com paredes forradas em linho cru e pequenos vasos de tulipas cor-de-rosa sobre as mesas de canto. A atmosfera era delicada, quase poética. Isabelle sentiu que ali começava algo novo, algo só deles — longe dos fantasmas, das cicatriz

O portão da maternidade deslizou com suavidade, revelando o casal mais aguardado do país. Isabelle surgiu envolta por um trench coat creme, os cabelos soltos em ondas discretas, o rosto iluminado por uma serenidade nova. Em seus braços, o pequeno tesouro de sua vida: Catherine, protegida por uma manta branca bordada com fios de ouro. Matteo caminhava ao seu lado, firme, imponente em seu paletó azul-marinho, a mão repousando de forma protetora sobre o ombro da esposa. Não era apenas um gesto: era uma declaração silenciosa de amor e domínio. Juntos, formavam a imagem exata de uma família restaurada.Os flashes das câmeras pipocavam como fogos de artifício em uma noite festiva. Repórteres gritavam perguntas, os microfones se estendiam em direção ao casal, enquanto drones sobrevoavam discretamente a entrada da clínica. O tapete vermelho improvisado por seus assessores cobria a entrada até o carro que os aguardava. Isabelle manteve um sorriso contido, elegante, acenando com delicadeza para

Isabelle despertou com o corpo trêmulo e a respiração entrecortada, como se tivesse sido arrancada de um abismo profundo e sufocante. O suor frio colava os fios escuros de seus cabelos à testa, e o lençol, amarrotado, parecia ter sido retorcido por mãos invisíveis. Por alguns segundos, permaneceu deitada, o olhar perdido no teto, tentando separar o sonho da realidade, mas a voz infantil que ecoava em sua mente tornava a tarefa impossível.— Papai… papiii…O sussurro infantil, doce e inocente, ressoava como um eco maldito vindo de outra dimensão. Mas o que a fez estremecer por completo foi o rosto que surgira no sonho — não o de Matteo, que tantas vezes a embalava em paz durante suas noites, mas sim o de Dominico. Ele estava ali, à beira da cama, sorrindo com aqueles olhos negros cheios de loucura e obsessão, segurando Catherine nos braços como se ela fosse seu troféu.— Meus amores... minha filha... minha amada Isabelle. Você é minha. Ela é o fruto da minha semente.As palavras, impre

O som da porta se fechando atrás de si ecoou mais alto do que Isabelle esperava. A sala era acolhedora, revestida de madeira clara e cortinas em linho creme, mas o coração dela batia como se estivesse diante de um tribunal. Sentou-se na poltrona à frente da terapeuta, ajeitou a barra da saia sobre os joelhos e respirou fundo. O relógio marcava o início de algo que ela adiava havia anos.A Dra. Kern sorria com suavidade, os óculos redondos na ponta do nariz e um caderno repousando sobre o colo.— Fique à vontade, Isabelle. Podemos começar do ponto que quiser.Ela assentiu devagar, como se precisasse obter permissão para existir naquela sala.— Eu... não sei por onde começar. Meu passado é como uma tapeçaria antiga, cheia de nós, buracos e manchas que não consigo mais disfarçar.A terapeuta apenas aguardava, com o silêncio que encoraja, e então Isabelle prosseguiu:— Acho que tudo começou no dia em que meus pais decidiram me casar. Eu tinha vinte e cinco anos. Era virgem e inexperiente.