Rafaela chegou duas horas depois, entrando pela porta lateral da mansão como fazia desde a adolescência, quando aprendeu que, naquela casa, cada olhar carregava julgamento, cada corredor tinha ouvidos. Era seu ritual silencioso de rebeldia: evitar a entrada principal, os olhares dos empregados, os comentários dos parentes.Ela nunca pertencerá àquele mundo ou, pelo menos, fingia muito bem que não. Era uma Lins por sangue, mas fazia questão de jamais ser uma por comportamento.Vestia jeans, uma camisa de linho amassada, o cabelo preso em um coque bagunçado. Livre. Real. Um contraste quase violento com os corredores perfeitos daquela mansão asséptica.— Que cara é essa? — disse assim que entrou no quarto, largando a bolsa de couro gasto sobre a poltrona. — Parece que alguém morreu.Isabelle ainda estava sentada à beira da cama, com os joelhos dobrados e as mãos entrelaçadas no colo. Seus olhos fixaram um ponto indistinto do chão, como se ali houvesse um abismo apenas ela pudesse ver.—
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