A sala de cirurgia da ala médica da mansão Rurik estava imersa numa tensão cortante. As luzes brancas refletiam no aço dos instrumentos, e os monitores emitiam bipes irregulares que pareciam zombar da urgência.— Pressão 90 por 60. Frequência cardíaca instável. Sangramento ativo no lobo hepático direito. — Relatou a enfermeira-chefe, com as luvas já escurecidas de sangue.Doutor Igor afastou o tecido com precisão, os olhos estreitos diante da cena.— O caminho da lâmina foi irregular. Pegou parte do reto abdominal, mas o dano mais crítico é no fígado. Preparem compressas mágicas com selo de regeneração. Temos uma perfuração parcial e sangramento secundário.— Sutura hepática imediata. Vamos estabilizar a pressão. Mantenham o fluxo de sangue e preparem a drenagem. Nenhuma infecção vai entrar aqui hoje.***Do lado de fora, Dmitry andava como uma fera presa. Os passos ecoavam no corredor frio, enquanto o vínculo com Susan se mantinha tênue, frágil, mas vivo.Dentro dele, o Lycan falava.

Moscou tinha um céu cinzento naquela manhã, e a mansão Rurik estava envolta num silêncio tenso, como se até as paredes aguardassem o desfecho da tempestade iminente.A segurança estava em alerta total. Portões selados por runas, vigilância dobrada, ordens diretas de Dmitry para que ninguém entrasse ou saísse.Foi nesse cenário que Sasha Volkov chegou.A SUV preta parou diante da entrada principal, e o ar gelado foi cortado pelo ranger pesado da porta blindada se abrindo.Sasha desceu com os ombros cobertos por uma jaqueta de couro escuro, o cabelo castanho-escuro preso em um coque frouxo, e os olhos âmbar acesos como faróis de fúria contida.Dois guardas tentaram barrá-lo.— Ordens de isolamento, senhor Volkov. Nem visitas de alto…— Eu não sou visita. — Cortou Sasha, o tom baixo e perigoso. — Sou a porra da caça que veio ajudar a rastrear os ratos escondidos nas suas paredes.A aura dele se impôs, densa e lupina. Os guardas recuaram por puro instinto.Alexei já o aguardava na entrada

O caminho até o subsolo da mansão Rurik era frio e sem janelas. Um corredor de pedra escura, impregnado de runas anti-espionagem e encantamentos antigos, projetado para um único propósito: interrogatório sem misericórdia.Alexei e Sasha abriram as portas pesadas de metal encantado. A sala estava vazia, exceto por três cadeiras de contenção. Cada uma reforçada com argolas de prata, correntes rúnicas e estacas seladas no chão.Dmitry entrou por último. Sua presença mudou o ar.Nada de casaco. Apenas uma camisa preta de mangas arregaçadas, os olhos de aço acinzentado completamente tomados por um brilho lupino. Ele não precisava falar.A Fera já estava ali.Viktor foi o primeiro a ser trazido, seguido por Anton e, por fim, Bogdan. Cada um foi preso nas cadeiras com brutal eficiência. Correntes se apertaram automaticamente ao redor dos pulsos e tornozelos, selando a magia de transformação e qualquer tentativa de fuga.Dmitry ficou em silêncio por longos segundos, apenas observando os três.

TRÊS DIAS DEPOIS - MANSÃO RURIKO quarto de Dmitry estava sempre em meia penumbra. As cortinas fechadas filtravam a luz da manhã em filetes dourados, e a lareira encantada mantinha o ambiente em uma temperatura morna, constante.Susan dormia entre lençóis de algodão fino, com a respiração tranquila. A palidez começava a recuar das suas bochechas, e embora ainda frágil, ela parecia menos vulnerável a cada amanhecer.Dmitry trabalhava no sofá ao lado da cama. O notebook sobre os joelhos, anotações abertas em hologramas rúnicos flutuando ao redor. Mesmo ali, envolto em burocracias do clã e relatórios de segurança, os olhos dele voltavam para ela a cada cinco minutos.O corpo de Dmitry queimava. Não de febre, mas de algo mais instintivo.Desejo. Necessidade. Fome.Ela estava ali. Viva. Respirando. E ele queria tocá-la. Queria envolvê-la em seus braços, sentir a pele dela nua contra a dele, marcar cada centímetro. Tudo o que fosse possível para provar a si mesmo que ela estava viva, e dele

A manhã chegou sem pressa.Luz suave filtrava-se pelas cortinas pesadas do quarto de Dmitry. O mundo lá fora permanecia quieto, como se respeitasse o silêncio de dois corpos entrelaçados, exaustos e em paz.Susan despertou lentamente. A primeira coisa que sentiu foi o calor.Não da coberta… Mas o calor do corpo de Dmitry, envolto ao dela como uma muralha viva. O braço forte repousava sobre sua cintura, e o nariz tocava a curva do pescoço dela, como se ele tivesse adormecido ali, inalando sua presença.Ela não se mexeu. Não queria quebrar o encanto. Mas Dmitry já estava desperto.— Você mexeu o pé. — Murmurou, a voz ainda rouca de sono.— Você reparou? — Ela sorriu, ainda de olhos fechados.— Eu sinto. — Ele respondeu, mais sério. — Muito antes de você se mover... Eu já sabia que estava acordando.Susan se virou de leve, encarando os olhos azuis dele. Pela primeira vez, não havia tensão. Nem raiva. Nem fúria. Havia paz.Mas... Uma paz vigiada.— Você dormiu? — Ela perguntou, a mão subi