A van da Constela saiu às seis da manhã, ainda sob o céu pálido de um dia que parecia pedir silêncio.Aurora, Davi e Mariana levavam consigo apenas um gravador, um caderno grosso e uma flor seca dentro de um envelope — colhida por Clara e enviada junto, como símbolo da coleção Raiz.O asilo ficava num pequeno distrito chamado Rosalina, nome que parecia ter saído de uma crônica antiga. Ruas de paralelepípedos, casas com varandas abertas e um cheiro de pão assando que parecia vir do chão.Benedita os esperava de cadeira de rodas, num canto do jardim, com um vestido florido e um lenço nos cabelos brancos como sal grosso.— Vocês chegaram — ela disse, como quem afirma algo que já sabia.A conversa começou devagar. Aurora não puxou gravação, não abriu caderno. Só sentou-se ao lado.— O que a senhora quer contar pra gente, dona Benedita?— O que ninguém nunca me pediu — ela sorriu. — Meus três dias de amor.Silêncio.E então ela começou.— Era 1961. Eu tinha 20. Ele, 23.O nome dele era Gus
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