Capítulo 16O cheiro de poeira misturado ao de madeira antiga impregnava o ar naquela manhã clara, quase quente demais para o outono. O sol espreitava por entre as frestas da construção centenária, revelando partículas suspensas que dançavam em silêncio dentro da sala principal. Eu já havia me acostumado a esse cenário — o casarão, com suas paredes marcadas pelo tempo, rangidos que contavam histórias esquecidas, e uma sensação persistente de que algo ali dentro ainda respirava, ainda resistia.Estava de joelhos, com luvas e pincel em mãos, trabalhando delicadamente na moldura de uma das janelas do segundo andar. A pintura original, coberta por camadas de verniz e retoques malfeitos ao longo dos anos, começava a revelar seus tons envelhecidos. A cada detalhe restaurado, parecia que o casarão sussurrava agradecimentos. E, de certa forma, restaurar aquilo era também restaurar uma parte de mim.A obra, no entanto, não se limitava ao resgate estético. Havia infiltrações que exigiam interve
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