Vozes Entre as Paredes
Os dias em Vale das Rosas seguiam lentos, envoltos por uma névoa constante, como se a cidade respirasse segredos a cada esquina.
Ana Luísa já se acostumava à rotina da casa antiga. A cada gaveta aberta, a cada armário que rangia, sentia-se mais perto do passado que tanto a atormentava. A carta anônima recebida dois dias antes ainda estava sobre sua mesa, entre papéis e livros.
— Tudo bem, querida? Perguntou Viviane, colocando uma bandeja com chá e torradas sobre a mesa da cozinha. O aroma de hortelã suavizava o clima tenso.
Ana levantou os olhos, sem sorrir.
— Essa carta, Tia, eu não consigo entender como alguém pode saber que eu estou investigando.
Viviane puxou uma cadeira e sentou-se ao lado dela.
— Aqui todo mundo sabe de tudo. E ninguém esquece nada. Essa cidade tem uma memória própria, Ana. Se você quer cavar, precisa estar pronta para o que vai desenterrar.
— E você? Também está com medo?
Viviane hesitou, olhando pela janela como se esperasse encontrar u