Capítulo 21 – A Loucura da DuquesaA fortaleza de Varmond estava tomada pela penumbra. As tochas acesas nas paredes projetavam sombras dançantes, e o ar gélido que atravessava os corredores anunciava a chegada definitiva da noite.Rudbeckia continuava no escritório. Estava ali desde a manhã, logo após Elizabeth lhe entregar a papelada referente aos deveres da Duquesa. Nem percebera a passagem das horas. A luz do dia havia se transformado lentamente em escuridão, mas dentro daquele cômodo, ela mal notara a mudança. Seus olhos começavam a arder de cansaço, mas sua mente ainda trabalhava como uma engrenagem em chamas.Entre tantos documentos, um em especial a prendeu por mais tempo. A lista de tarefas da criadagem.À medida que lia, a frustração se instalava em seu semblante. Havia uma divisão clara — e cruel — entre os servos. Os mais jovens, os de famílias humildes ou sem proteção, recebiam os trabalhos mais pesados, mais longos e ingratos. Enquanto isso, os protegidos de Elizabeth ou

Capítulo 23 — A Coroação de SangueAlastair veio até Rudbeckia. E, em vez de violência, pousou a mão sobre seu rosto. Acariciou sua pele como se fosse feita de porcelana.— Não sei por que ainda pergunto… — Alastair murmurou, agora de pé diante de Rudbeckia, espada em mãos.Os olhos dele não eram os mesmos que haviam fulminado os servos segundos atrás. Estavam mais escuros, mas serenos. Fixos nela, como se a atravessassem.Rudbeckia vacilou, um movimento mínimo dos ombros, quase imperceptível. Aqueles olhos não tinham intenção de matá-la. Pelo contrário. Havia algo naquele olhar que a deixava inquieta de outro modo — não era medo, era incerteza.— Independente de ser verdade ou não… — ele continuou, com a voz mais baixa, sem desviar dela — minha Duquesa sempre estará certa.Aquela frase explodiu no ambiente como um raio silencioso.Beau ergueu uma sobrancelha, atento.Rudbeckia sentiu o peito pesar com a confusão repentina. O que ele queria dizer com aquilo? Estava… protegendo-a? Ela

Capítulo 25 — Aquele que ServeO corredor que levava à ala das cozinhas parecia mais estreito do que de costume.Cada passo de Rudbeckia soava mais alto do que deveria, ecoando pelas pedras frias sob seus pés. Não era a primeira vez que caminhava por ali, mas agora… era diferente. Desta vez, ela não era apenas uma visitante. Era a Duquesa — e todos ali sabiam disso.Beau caminhava um passo atrás, atento, mas em silêncio. A presença dele impunha respeito, e sua sombra parecia se projetar sobre os criados antes mesmo de chegarem.O cheiro da cozinha já começava a se fazer presente — especiarias, gordura, carvão. E tensão.Muito antes de atravessar o arco que dava para o salão de preparo, Rudbeckia já ouvia os murmúrios abafados cessarem. Uma quietude forçada tomou conta do ambiente. O tilintar dos utensílios cessou. Panelas foram postas de lado. Servos se enfileiraram instintivamente, como se pressentissem uma inspeção de guerra.Ela cruzou o limiar com o queixo erguido e o olhar firme.

Capítulo 27 – Antes da TempestadeA luz do entardecer já havia cedido espaço à penumbra. As últimas faixas douradas do dia escorriam pelas bordas das cortinas pesadas, morrendo lentamente sobre o chão de pedra. O crepitar da lareira era o único som preenchendo o silêncio espesso do escritório. A chama dançava preguiçosa, refletindo em papéis desorganizados, selos esquecidos e nos vidros embaçados da janela alta.Sobre o sofá de couro escuro, um caos sutil — uma almofada caída, um casaco largado às pressas no chão e um corpo estirado em postura relaxada demais para alguém como ele.Alastair despertou com um sobressalto.O ar entrou fundo em seus pulmões, como se tivesse estado em apneia por tempo demais. Seus olhos se abriram num lampejo, atentos, prontos para a guerra… até que a percepção da realidade chegou com uma lentidão inesperada.Não dormia tão bem havia algum tempo.Estava deitado.Mais do que isso… repousava o rosto entre os seios de sua esposa.A maciez que sustentava sua ca

Capítulo 29— O Preço do Sangue AmaldiçoadoA luz pálida da manhã filtrava-se pelas frestas da cortina pesada, tingindo o quarto de tons azulados e frios. O silêncio era quase absoluto, exceto pelo suave estalar da madeira antiga, cedendo sob o peso do tempo e da temperatura.Rudbeckia abriu os olhos devagar.O corpo inteiro parecia feito de chumbo. Cada músculo doía como se tivesse lutado a noite inteira. O ar parecia denso, difícil de puxar, e até erguer os braços exigia um esforço que não condizia com sua aparência jovem e saudável.Ela se sentou lentamente à beira da cama, pressionando a testa com a palma da mão. Sentia-se vazia. Não no sentido emocional, mas fisicamente drenada. Como se algo dentro dela tivesse sido consumido até a última gota.E foi então que se deu conta.Três vezes. Usara a magia de sangue três vezes nos últimos dias. A primeira para punir Elizabeth. A segunda para curar a aprendiz na cozinha. A terceira, mais íntima e silenciosa, para salvar Ebony. Seu corpo,