A quarta-feira começou como outra qualquer: ônibus cheio, café morno na caneca de tampa rachada, e a brisa quente da manhã carioca misturada ao cheiro de asfalto e pão fresco. Isabela Duarte chegou cedo ao prédio da Constellation Global, como de costume. Cumprimentou os colegas da portaria com um sorriso e subiu até seu andar sentindo o coração leve, ainda envolto pela lembrança da entrega do relatório dias antes. A reunião do conselho havia sido encerrada com boas repercussões, segundo a Sra. Almeida. Isabela não estivera presente, mas soube que sua apresentação fora elogiada, especialmente por sua abordagem humana e estratégica. Ainda assim, nada havia sido dito diretamente por Rafael desde então. Ela não esperava uma cerimônia — o simples fato de ter sido confiada com aquela tarefa já era um prêmio. Mas algo dentro dela ansiava por algum tipo de retorno. Mal tinha chegado à copa executiva quando notou um pequeno envelope sobre sua mesa de apoio. Não tinha remetente, apenas seu no

A sala de brainstorm, normalmente fria e silenciosa, estava animada naquela manhã de terça-feira. No centro da mesa retangular, papéis rabiscados, post-its coloridos e protótipos improvisados davam sinais do entusiasmo recente com a nova campanha de engajamento interno. Isabela Duarte, sentada com uma caneta entre os dedos e o caderno aberto, ouvia atenta enquanto Rafael apresentava os pilares da proposta que haviam desenhado juntos. O projeto, que começara com um café casual, ganhava agora corpo e visibilidade — e chamava atenção de setores diversos. — Bom, e agora que temos uma linha criativa clara — disse Rafael, com um sorriso de canto —, gostaria de apresentar alguém que vai somar nessa etapa: Carla Mota, nossa gerente júnior de marketing. Carla entrou na sala com passos firmes e sorriso espontâneo. Cabelos castanhos lisos presos num coque baixo, blazer bege sobre uma camiseta preta minimalista, e uma prancheta nas mãos. Olhos atentos, um ar de profissionalismo quase encantado

Era uma manhã cinzenta, daquelas que fazem o escritório parecer mais frio do que realmente é. Isabela chegou cedo, com uma xícara de café na mão e a cabeça cheia de ideias. Havia passado a noite revisando o protótipo de campanha interna que Rafael havia elogiado no almoço da véspera. Ela sabia que, mesmo com o respaldo do CEO, ainda navegava por águas políticas instáveis. O canal de comunicação interna da empresa — o Slack corporativo — era dinâmico, mas nos últimos dias vinha sendo palco de debates mais acalorados sobre inovação, campanhas internas e novas práticas de comunicação. Isabela publicara uma prévia do protótipo no canal #comunicacao-criativa, atendendo a um pedido informal da diretoria. A proposta era ousada: uma série de imagens e frases curtas que destacavam rostos reais da empresa — incluindo faxineiros, seguranças, técnicos e analistas — com o slogan: “Aqui, todo mundo importa.” A estética moderna, com cores vivas e traços orgânicos, destoava do padrão institucional,

Era uma manhã silenciosa na Constellation Global, mas Isabela Duarte já sentia o dia acelerar dentro do peito. O elevador ainda subia quando ela leu a mensagem no celular, enviada poucos minutos antes: “Se estiver com tempo agora, poderia passar aqui? Preciso de sua visão em algo — R.” Sem mais contexto, a assinatura simples bastava. Rafael. Desde o convite para o brainstorm e os pequenos gestos que vinham se acumulando, Isabela já percebia que a relação entre eles estava em expansão — profissionalmente e talvez… algo a mais. Mas, por ora, concentrou-se no que viria. Chegando ao 15º andar, foi recebida pelo olhar atento da secretária de Rafael, que apenas acenou com a cabeça. A porta da sala dele já estava entreaberta. — Isabela, entre! — chamou Rafael de onde estava, próximo à mesa de reuniões, sem terno, mangas da camisa dobradas, postura informal e um leve sorriso. Ela entrou, desconfiada, mas receptiva. — Bom dia… Tudo certo? — Melhor agora que você chegou — disse, num tom

O auditório interno da Constellation Global era, naquela manhã, o coração pulsante da empresa. Luzes baixas, projeção clara, executivos e líderes de áreas se distribuíam pelas cadeiras com cafés em mãos, murmurando sobre números, tendências e os próximos passos do trimestre. Isabela Duarte sentou-se discretamente ao fundo, com o coração acelerado. O protótipo de comunicação visual que ela havia criado — fruto de madrugadas solitárias, dúvidas e intuição — estava prestes a ser mencionado. Ou não. A verdade era que ninguém lhe prometera visibilidade. A única certeza era a presença de Rafael Moretti. Ele entrou pontualmente às nove, com blazer escuro e olhar calmo. O burburinho cessou assim que sua voz ecoou pelo microfone: — Bom dia a todos. Hoje quero começar essa reunião com algo diferente. Uma aposta. A palavra reverberou como um trovão elegante na sala. Os olhares se ergueram, atentos. Henrique, sentado à esquerda da sala, franziu levemente a testa. A diretora de RH ajustou a po