O vapor da máquina de café preenchia o ambiente com aquele aroma quente e acolhedor que sempre me fazia pensar em casa. A cafeteria já estava mais silenciosa depois do movimento intenso da manhã. Alguns clientes ainda ocupavam as mesas próximas às janelas, com seus notebooks e olhares dispersos, mas, no geral, o ritmo tinha desacelerado. Era o momento perfeito para respirar fundo e, enfim, fazer aquela pausa merecida.Isa veio até o balcão carregando duas xícaras fumegantes, equilibradas na bandeja como se fosse a coisa mais natural do mundo. Ela se sentou à minha frente, e eu soltei um suspiro satisfeito.— Eu precisava disso — murmurei, envolvendo os dedos na porcelana quente.Ela sorriu, aquele sorriso calmo que sempre parecia me devolver ao eixo.— Café salva mais que terapia às vezes.Rimos juntas, e por alguns segundos, o silêncio entre nós foi confortável, preenchido apenas pelo tilintar das colheres mexendo o líquido escuro. Depois, Isa abriu a pasta que havia deixado sobre a

A televisão iluminava a sala em tons suaves, refletindo sobre as paredes que eu conhecia desde criança. Era estranho estar de volta à casa dos meus pais depois de tanto tempo, como se aquele lugar tivesse parado no tempo, esperando por mim. O sofá, o tapete, até o cheiro de café recém-passado vindo da cozinha… tudo me envolvia em um abraço silencioso.Mas naquele momento, nada parecia mais importante do que o peso quente e doce da Serena em meus braços.Ela estava aninhada contra o meu peito, mamando devagar, como se o mundo inteiro fosse só isso: nós duas, unidas por um laço que nem mesmo a memória me tirou. Amamentá-la novamente tinha sido algo inesperado. Nos primeiros dias, eu achei que meu corpo não lembraria, que sete meses de distância teriam apagado essa possibilidade. Mas não. Como se houvesse uma memória mais profunda que qualquer outra, mais forte que o esquecimento. Meus seios voltaram a produzir leite, e Serena parecia entender instintivamente que aquele era o nosso lugar

O espelho à minha frente refletia algo que eu mal conseguia acreditar: eu mesma, envolta em camadas de tule e renda, testando um vestido de noiva. Por um instante, tive a sensação de estar olhando para outra pessoa, uma personagem de um sonho que eu jamais pensei que realmente viveria. Suspirei, ajeitando a saia volumosa, enquanto Isa, sentada em uma poltrona, me observava com aquele olhar atento que sempre teve.— Acho que estou parecendo uma princesa perdida num castelo — brinquei, girando de leve.Isa levou a mão à boca, abafando uma risada suave.— Princesa nada, Giulia. Você está com cara de mulher apaixonada. É diferente. — Ela piscou para mim, e por algum motivo meu coração se aqueceu com aquelas palavras.A atendente veio ajeitar alguns detalhes no corpete, mas minha atenção estava toda voltada para Isa. O jeito como seus olhos se enchiam de brilho, como se cada instante dessa escolha fosse também dela, me fazia lembrar que eu nunca estive sozinha, mesmo quando achava que esta

O cheiro suave de flores frescas e tecidos novos me envolveu assim que entrei na sala iluminada da loja. As araras repletas de vestidos brancos, com rendas, brilhos e cortes delicados, me fizeram prender a respiração. Eu já tinha vindo aqui antes com Isa, mas hoje era diferente. Hoje, todas as mulheres que eu amava estavam comigo.Isa sorria como se fosse o dia do próprio casamento, a mãe dela que para mim sempre foi como uma avó observava tudo com aquele olhar sereno e cheio de carinho. Minha maninha corria de um lado para o outro, curiosa com cada detalhe, enquanto a mãe de Noah, elegante e doce, se aproximou para segurar minha mão.— Está pronta, querida? — ela perguntou com a voz calma.Assenti, mas meu coração parecia querer saltar do peito. Havia algo dentro de mim que pulsava mais forte do que nunca. Algo que eu não conseguia explicar.A atendente trouxe o vestido cuidadosamente embalado, e só de vê-lo senti um arrepio percorrer minha pele. Isa me acompanhou até o provador, aj

Eu dirigi o caminho inteiro com uma ansiedade boa, dessas que queimam no peito e fazem a respiração falhar de vez em quando. Giulia olhava pela janela, distraída, enquanto Serena dormia no banco de trás, o rostinho sereno refletindo a luz suave do fim da tarde. Era o momento perfeito para revelar o que eu vinha guardando há semanas, o segredo que tinha planejado com tanto carinho.Quando o carro entrou no condomínio onde o pai dela morava, percebi a surpresa nos olhos de Giulia. Ela virou o rosto para mim, arqueando uma sobrancelha, como se quisesse perguntar por que estávamos ali. Sorri de canto, sem responder, e apenas segui dirigindo. Não era para a casa do pai dela que estávamos indo. Eu tinha um destino diferente, e queria ver sua reação.— Noah... — ela chamou, com aquela voz baixa que sempre me desmonta. — O que estamos fazendo aqui?Apertei a mão dela sobre o câmbio e a encarei rapidamente antes de voltar os olhos para a estrada.— Confia em mim. — Foi tudo o que respondi.Pou