O entardecer em Marbella tinha um tom dourado que parecia pintado à mão.O sol se punha lentamente sobre o mar, tingindo o céu de laranja e rosa, enquanto a brisa carregava o cheiro salgado da água e o frescor das flores espalhadas pelos jardins da mansão de Miguel. Eu ainda estava tentando acreditar que tudo aquilo era real: o jantar de ensaio do meu casamento com Giulia. Nosso casamento.Circulávamos entre as mesas, lado a lado, como anfitriões desse momento que parecia tanto um sonho quanto uma conquista. Giulia segurava minha mão com firmeza, e com a outra ajeitava Serena no colo, que observava as luzes com aquele olhar curioso que sempre me derretia.As mesas estavam dispostas pelo terraço que dava de frente para o mar. Lanternas de vidro pendiam em fios delicados, iluminando a noite que se aproximava, e a música suave de um quarteto de cordas preenchia o ar sem roubar o protagonismo da celebração. Havia risadas em todas as direções, taças tilintando, abraços demorados e olhares

O quarto da mansão estava tomado por uma energia diferente naquela manhã. O som suave das ondas batendo na praia ao fundo parecia acompanhar o ritmo acelerado do meu coração. A brisa que entrava pela sacada trazia cheiro de maresia misturado ao perfume doce das flores que decoravam cada canto. Era o dia do meu casamento.O dia em que eu diria “sim” para Noah diante de todos — mas, principalmente, diante da vida que sempre nos empurrou um para o outro.Estava sentada em frente ao grande espelho, enquanto a cabeleireira dava os últimos toques no penteado. O coque baixo e delicado deixava alguns fios soltos ao redor do rosto, criando uma moldura suave, quase etérea. A maquiagem já estava pronta, natural, mas o suficiente para realçar meus olhos marejados de emoção. Eu me observava e quase não acreditava: aquela mulher de vestido branco leve, pele aquecida pelo sol da manhã e coração em descompasso era eu.Isa, sentada perto da penteadeira, sorria orgulhosa enquanto brincava com Serena, q

O sol estava se despedindo no horizonte, tingindo o céu de cores douradas, rosadas e violetas que se refletiam no mar, logo à frente da mansão. O jardim havia sido transformado em um cenário de sonhos: mesas delicadamente enfeitadas com flores brancas e lilases, lanternas penduradas em árvores altas, velas espalhadas em vidros transparentes que já começavam a acender uma luz suave para receber a noite. Havia música, havia risos, havia aquele ar de celebração que só um casamento pode trazer.Eu caminhava ao lado de Noah, de mãos dadas, com Serena nos braços da madrasta, Isa, que ria ao ver a pequena encantada com o brilho das luzes. Meus olhos percorriam cada detalhe, como se quisessem gravar para sempre essa cena. Depois de tudo o que havíamos passado, cada obstáculo, cada dor, cada distância, estar ali, casada com o homem que sempre amei, parecia um milagre.Os convidados se espalhavam pelo jardim, alguns próximos da pista de dança montada sob uma cobertura transparente, outros reuni

A luz quente e dourada do final da tarde em Madrid banhava a nossa sala de estar, criando um reflexo dançante no chão de madeira clara. Respirei fundo, deixando o aroma reconfortante da paella que o meu pai insistira em preparar se misturar ao doce das flores que a Isa trouxera. Ainda me custava acreditar, às vezes, que aquela era a minha vida. A nossa vida.Fiquei parada na porta da varanda, com uma xícara de chá morna entre as mãos, e simplesmente observei. Meu coração se encheu de uma paz tão profunda que quase doía. Há menos de dois anos, meus dias eram uma névoa cinzenta em São Paulo, um vazio que achava que nunca seria preenchido. Agora, aqui estava.No centro do tapete, a Serena, com seus olhinhos arregalados que eram uma cópia perfeita dos do Noah, dava seus primeiros passinhos cambaleantes. As mãozinhas minúsculas se agarravam com uma força surpreendente aos dedos da mãe do Noah, que estava ajoelhada à sua frente. — Vem, minha estrelinha, vem para a vovó — ela coaxava, num p

O ar úmido de São Paulo me envolveu como uma nuvem morna assim que atravessei as portas automáticas do aeroporto. O som dos carros, os gritos de taxistas, o cheiro de gasolina e pão de queijo fresco se misturavam num turbilhão caótico que parecia gritar: bem-vinda ao Brasil, Serena.Depois de doze horas de voo, eu me sentia um borrão de cansaço, empolgação e saudade. Segurei com força a alça da mochila, meu amuleto de coragem, e procurei por um rosto familiar. Foi então que vi — pequena, enérgica e com um lenço colorido no cabelo — tia-avó Joana, a irmã mais velha da minha avó Isa.— Serena! — ela gritou, abrindo os braços no meio do saguão, sem a menor cerimônia. — Meu Deus, você é a cara da sua mãe!Antes que eu pudesse responder, fui engolida pelo abraço dela, um misto de perfume de lavanda e afeto guardado por décadas.— Que bom te ver, tia — murmurei, sorrindo. — Achei que ia me perder nesse aeroporto.— Se perdesse, eu fazia a Aeronáutica inteira te achar — ela respondeu, rindo.