LAIKAQuando abri os olhos, estranhei que ainda reinasse total escuridão. Perguntei-me quanto faltava para o alvorecer, mas logo percebi algo apertado em torno da cabeça: eu estava vendada. Tentei alcançar o que me prendia, apenas para descobrir que minhas mãos estavam amarradas uma à outra.— Joy? — Chamei, e Joy respondeu com um ganido fraco que me deixou ciente do perigo.Gemei ao sentir pontadas subirem pelo braço a cada mínimo movimento. O que acontecera? Quem me fizera aquilo? Passos suaves aproximaram-se. Minha última lembrança era a conversa com Claudia na noite anterior, antes de adormecer.— Ah, você está acordada. — A voz me fez congelar.Conhecia-a demasiado bem. Como viera parar ali? O que Erika fazia naquele lugar? Onde eu estava? Reuni forças para forçar a corda que me prendia.— Não adianta. Já corre cicuta de lobo suficiente nas suas veias.— O quê? — Gemei, imaginando o risco para meu filhote. A garganta ardia; falar doía.Erika aproximou-se e retirou a venda. A luz o

ALFA KARIM— Está me pedindo que fique calmo enquanto Laika provavelmente corre perigo lá fora. Eu não posso deixar aquele bastardo impune; quanto antes avisarmos à mãe dele, melhor para todos nós.— Alfa Karim, precisamos agir com discrição. ­Preferiria cometer um erro do qual se arrependeria pelo resto da vida? — Perguntou Jago.— Cruzar os braços e esperar que aquele miserável aja já é um erro. Não quero me culpar por ter ficado parado quando minha companheira mais precisou de mim.— E se ela, na verdade, não estiver em perigo? — Perguntou Sekani. — Precisamos ter certeza antes de nos arriscarmos. Sei que Morpheus tem sentimentos por Laika e jamais a machucaria.Lancei a Sekani um olhar fulminante, e ele imediatamente levou os dedos aos lábios, indicando que se calaria. Em seguida, virei-me, cerrei os punhos na cintura e comecei a andar de um lado para outro. Por que era tão difícil manter minha companheira ao meu lado? Parecia que o destino buscava cada brecha possível para afastá-

SEKANIAbri os olhos e deparei-me com a mais completa escuridão. Permaneci imóvel durante longos instantes, esforçando-me para compreender onde me encontrava e o que se passava ao meu redor. A última lembrança que me vinha à mente era o enjoo que me fizera vomitar e Alfa Karim me amparando.Levantei-me de súbito, certa de que haviam me deixado sozinha outra vez, porém algo pesado mantinha-me presa pelas pernas. Estendi a mão e, ao tatear, percebi tratar-se de um homem; alguém jazia sobre meus membros. Puxei as pernas com cautela até livrar-me daquele peso e, então, procurei a tocha acesa. Quando a chamei à luz, deparei-me com Alfa Karim e seus homens espalhados pelo chão, todos mergulhados em um sono profundo. A panela de sopa permanecia quase intocada, enquanto migalhas de pão salpicavam o cômodo.Franzi o cenho. havia algo errado. Como Alfa Karim e seus companheiros podiam adormecer de modo tão descuidado, com Laika ainda lá fora, em algum lugar? Não devíamos vigiar Morpheus? A menos

— Há uma questão. Você necessita dele para eliminar Karim. Eles bem que poderiam se destruir mutuamente e poupar você de todo esse desgaste.— Você tem razão, mamãe.— Outra coisa. Morpheus não veio sozinho ontem à noite. Alguém o acompanhava. Creio que agora já sabem onde você se esconde.— Como assim? Ele garantiu que havia envenenado todos.— Descobri pelas pegadas na areia. As marcas de Morpheus são mais largas que as do outro homem.Parei de ouvi-las e tentei estabelecer contato com minha loba.— Ei, Joy, está por aí?Joy soltou um ganido, que interpretei como um sim, embora estivesse muito debilitada.— Pela primeira vez na vida sinto um medo terrível. Nem é por mim... é pelo nosso filhote.— Estou fazendo o impossível para protegê-lo. Laika, você é uma mulher resiliente, com ou sem poder.— Obrigada, Joy. Eu precisava dessas palavras. Ignoro o método que Erika pretende usar para extrair meu poder, mas preciso que resista o máximo possível, por favor.— Eu... vou tentar...— Leva

ALFA KARIMSeparámo-nos e adentramos a caverna. Mantive Sekani perto de mim, enquanto os demais avançaram de forma independente. Ainda percebia o odor de Laika misturado ao mofo das rochas. Rastreando esse perfume, chegamos a uma cela. Estava vazia. Não havia prisioneiros, apenas cordas partidas espalhadas no chão e manchas de sangue pelo piso. Meu coração despencou até o estômago e senti a cabeça girar. Rezei para que aquele líquido não pertencesse a Laika. Sekani entrou no recinto, apanhou os pedaços de corda, levou-os ao nariz e me lançou um olhar grave.— Laika esteve aqui. — Disse ele.— Mas agora não está em lugar nenhum. Que inferno está acontecendo? — Passei a mão pelos cabelos, suspirei frustrado e comecei a caminhar de um lado para outro.— O que devemos fazer?— Deixa eu pensar. — Respondi num tom controlado, embora a mente zumbisse. Eu sequer conseguia concatenar ideias. Girei para Sekani, que examinava cada canto com atenção redobrada.— Alfa Karim, já está quase no pôr do