LAIKAEsperei do lado de fora depois do jantar, enquanto Claudia acomodava Karim e os demais na outra cabana. Eu havia percebido a troca de olhares entre Karim e Morpheus durante a refeição e precisava esclarecer as coisas. Não queria que Morpheus provocasse Karim apenas porque podia, tampouco permitir que Karim imaginasse que Morpheus e eu estivéssemos dormindo juntos ou algo semelhante. Não me deixaria envolver nas disputas deles. Sabia quem era meu companheiro, só precisava de tempo para processar tudo.Pedi para Morpheus me encontrar depois do jantar, assim que ele sussurrou ao meu ouvido que eu estava linda. Esperava que chegasse antes que Karim ou Sekani viessem atrás de mim. Teria de falar com os dois em algum momento, mas era essencial que Morpheus entendesse que não nutro sentimentos por ele, pelo menos não da forma como pensa.Sentei-me sob o salgueiro, ao lado do quintal, contemplando a lua brilhante e aguardando Morpheus. Aquela deveria ser a noite dos lobos, mas eu não tin

LAIKAOutra contenda sangrenta irrompeu entre os dois irmãos e, desta vez, não consegui permanecer imóvel, simplesmente observando-os aniquilarem-se. Interpus-me entre ambos, pressionando o peito de cada um com as mãos.— Parem! Parem com isso! O que há de errado com vocês dois?— Ele precisa sair desta cidade agora! — Morpheus bradou, apontando para Karim.— De jeito nenhum vou abandonar este lugar sem levar o que me pertence. — Karim retrucou.— Quando afirmo que ele tem de partir, é porque se trata de um assassino. Laika, ele matou a princesa ontem à noite apenas porque estava tomado pela ira.— O quê? — Julguei não ter escutado direito as palavras de Morpheus. Sobre o que ele estava falando?— O rei mandou chamar-me esta manhã. A princesa, aquela que se casou ontem, foi assassinada durante a noite por alguma criatura. As marcas dele cobrem todo o corpo dela.— O quê?! — Virei-me para encarar Karim, que fitava Morpheus com raiva. O olhar dele se voltou para mim e recuei alguns passo

ALFA KARIMPermaneci imóvel diante do espelho do lago, quebrando-lhe a placidez ao arremessar minúsculas pedras que desenhavam círculos concêntricos. Inúmeros pensamentos atravessavam-me a mente; eu não fazia a menor ideia de como agir naquele instante. Partira de meu Bando convicto de que viria, tomaria Laika pela mão e regressaria em um único dia, porém enganara-me redondamente: a situação revelava-se muito mais intrincada do que supunha. Laika não confiava em mim e, falhando miseravelmente em persuadi-la de que eu continuava a ser o homem que ela conhecia, apenas reforçava as mentiras que Morpheus espalhava para transformar-me em um monstro.Ele não se contentaria em imputar-me o assassinato da princesa; em breve toda a cidade ouviria dizer que, tomado pela cólera, eu destrocei uma mulher inocente. Custava-me crer que Laika lhe dera crédito. Baixei o olhar para o peito e para as mãos: os ferimentos que eu mesmo infligira já cicatrizavam, sinal inequívoco de que ninguém acreditaria e

ALPHA KARIMFiquei ali sentado por longos minutos após a partida de Claudia, rememorando cada detalhe de nossa conversa. Jamais imaginei que conseguiria expor tamanha vulnerabilidade diante de alguém. Levantei-me assim que uma ideia irrompeu em minha mente: precisava alcançar o rei antes que Morpheus o fizesse e avisá-lo de minha presença na cidade. Tentei contatar Jago pelo elo mental, porém ele não respondeu. Bloqueara-se. O pânico tomou conta de mim, e retornei ao alojamento que Claudia preparara para nós.Claudia recomendara que eu desse um tempo a Laika antes de procurá-la, e, obedecendo, mantive-me afastado da minha companheira, talvez para encontrá-la apenas ao cair da noite. Quando me aproximei da cabana, vozes chegaram aos meus ouvidos, e logo avistei as costas de uma mulher ao lado de meu Beta, postado diante da porta. Perguntava-me quem seria, quando notei Jago ruborizado como um tomate outra vez. Soube então que se tratava de Ari. Jamais o vira tão escarlate, tão ansioso, t

— No instante em que soube que Karim veio atrás de você mesmo depois de ter saído com o herdeiro, passei a respeitá-lo profundamente. Ele é um homem que não permite que convenções ou a sociedade o impeçam de alcançar o que deseja ou de buscar o que o faz feliz. É alguém raro e, depois de ouvir suas histórias, reconheci que o que existe entre vocês também é raro. Não admitirei que nem meu filho se intrometa.— Sei que Morpheus já tem uma companheira. Um dia ele haverá de encontrar a própria alma gêmea e, nesse momento, serei a mãe mais feliz do mundo. Desejo que tudo corra bem para ele, já que comigo não deu certo.— Mas ele não acredita no vínculo de companheiros. Acha que isso é bobagem.— É, ele pensa assim porque está se rebelando contra a deusa da lua.— Obrigada por partilhar este momento comigo. Sou grata de verdade e, agora mais do que nunca, tenho certeza de que Karim e eu fomos feitos um para o outro.— Ele é tão sincero, menina, e não está aqui apenas pelo herdeiro. A menos q