O som da água batendo contra os azulejos preenchia o banheiro com uma tranquilidade enganosa. Elisa mantinha os olhos fechados, o rosto voltado para o chuveiro quente, como se pudesse, com aquele banho, apagar tudo o que havia sentido, o toque, o gosto, o peso do corpo dele sobre o dela, mas, principalmente, o que veio depois. O vazio, a solidão e as lembranças. Ela não tinha pressa. Passava o sabonete na pele com lentidão, esfregando os braços como se pudesse arrancar as lembranças que grudavam feito perfume forte. À medida que a água escorria, não era só o cansaço físico que ia embora. Eram também os pedacinhos de controle que ela mantinha tão firmes durante o dia. Quando terminou, se secou com uma toalha macia. Vestiu um robe fino de seda clara, deixou os cabelos soltos, ainda úmidos. Os pés descalços seguiram pela casa silenciosa. Ela pegou uma taça de vinho e a fatia de torta esquecida no forno da noite anterior. Estava fria. Nem se importou. Na sala, acendeu apenas uma luz f

O café na xícara esfriava entre os dedos de Elisa, mas ela mal percebia. O amargor do líquido esquecido era o menor dos incômodos. Sentada à frente de Adam, em sua sala envidraçada no alto do prédio, o mundo parecia pequeno demais para conter tudo o que precisava ser dito. A mesa entre eles era curta, mas a distância emocional parecia impossível de cruzar. Adam não era o mesmo homem de antes. Elisa percebeu no instante em que ele entrou. O terno alinhado, o cabelo bem cortado, os gestos contidos ainda estavam lá. Mas os olhos… os olhos estavam exaustos. Não de sono, mas de um peso que ele carregava fazia tempo. Ela apertou a porcelana da xícara, como se a firmeza da mão pudesse conter o tremor que ameaçava por dentro. — Antes de qualquer coisa… — sua voz saiu mais firme do que esperava. — Eu preciso saber por que você foi embora, Adam. Sem aviso. Sem olhar pra trás. Nenhuma explicação. Nenhuma maldita ligação em dez anos. Ele respirou fundo. Não respondeu de imediato. Levou

Já se passavam alguns dias desde que Elisa contara sobre a filha que perdeu. Desde então, algo invisível os ligava, algo mais profundo do que palavras, mais honesto que promessas. Não havia pedidos de desculpas repetidos, nem declarações dramáticas. Havia apenas silêncio. E presença. Adam, desde então, parecia ter tomado uma decisão: ele queria reconquistar a mulher que sempre amou. Mas não do mesmo jeito. Não com pressa, nem com exigência. Ele queria reconquistar a alma dela. A confiança. Os pequenos espaços que haviam sido fechados ao longo de dez anos. Na primeira manhã, apareceu em sua casa com uma sacola de pães quentinhos e um buquê de flores do campo. — Não sabia se gostava mais das amarelas ou das brancas… então trouxe as duas. — disse, tentando sorrir, mesmo que os olhos ainda carregassem tristeza. Elisa sorriu, pegou as flores, levou até o rosto para sentir o perfume e assentiu. — São lindas. Obrigada, Adam. Naquela manhã, tomaram café juntos. E assim começaram

E então, sem pressa, sem alarde, sem medo… ele a beijou. Não foi um beijo urgente, nem desesperado. Foi um beijo que começava devagar, como quem conhece o caminho, mas precisa redescobri-lo com respeito. Os lábios dele tocaram os dela com ternura, explorando primeiro o contorno, como se estivesse pedindo permissão. E ela deu. Elisa cedeu com um suspiro que escapou sem que conseguisse conter. A mão dela subiu devagar até a nuca dele, enroscando os dedos nos fios curtos do cabelo. E então, quando ele sentiu o corpo dela finalmente se render, deslizou a língua devagar contra a dela, um toque leve, quente, provocante, mas carregado de sentimento. Ela respondeu, abrindo mais o beijo, deixando que suas línguas se encontrassem em um ritmo íntimo, lento, molhado na medida certa. Era um beijo com gosto de lembrança, de desejo antigo, mas também de algo novo. Um recomeço. As mãos dele apertaram sua cintura com mais intensidade, puxando-a para mais perto, colando seus corpos. Elisa senti

Os corpos ainda colados, os corações acelerados, o silêncio carregado de tudo o que haviam dito, com palavras e com gestos. Adam beijou o ombro dela com um carinho que parecia sussurrar promessas. E então, com um toque suave no queixo dela, a fez olhar em seus olhos. — Vem comigo. — murmurou. Ele a guiou até o banheiro anexo do escritório. O espaço era pequeno, mas bem decorado, com azulejos claros e um chuveiro moderno. Adam ligou a água, regulando a temperatura, e estendeu a mão para ela, como se aquele gesto fosse uma extensão da entrega que já haviam vivido. Elisa entrou no box com ele, e quando a água morna começou a cair sobre seus corpos, ela encostou o rosto no peito dele, fechando os olhos por um momento. O som da água abafava o mundo lá fora, e o calor do corpo dele acalmava o turbilhão dentro dela. Ela inspirou profundamente, sentindo o cheiro da pele dele misturado ao sabonete. Um cheiro que, sem saber, ela havia sentido falta por anos. Adam envolveu os braços ao r