Eloisa ficou sem chão ao ver que o tremor do seu dedo disparou a arma e acertou diretamente em Marcos. Marcos cambaleou no meio da escada. O som do disparo ainda ecoava em seus ouvidos, rasgando o silêncio com a crueldade do inesperado. Ele levou a mão ao lado do corpo, os olhos arregalados pela dor súbita, e caiu de joelhos como se o chão tivesse sido puxado debaixo dele. — Pai! — berrou Oliver, correndo até ele, o coração descompassado, como se cada batida ameaçasse rasgar o peito. Os pés mal tocavam os degraus enquanto a visão do pai sangrando diante dele acelerava cada batida dentro do peito. Judite, tomada pelo pânico, se jogou no chão, cobrindo a cabeça com os braços como se o teto estivesse prestes a desabar. — Meu Deus... Antonella gritou, mas o som pareceu ficar preso no ar, um lamento desesperado que ecoou e se dissipou no silêncio denso que tomou conta da sala. Por um instante, ela congelou, os olhos arregalados, o coração martelando no peito, incapaz de acreditar

Afastada da movimentada e barulhenta cidade. O telefone tocou no final da tarde, interrompendo o som abafado da TV que passava um noticiário qualquer. Katy, mãe de Eloisa, estava sentada no sofá com os olhos perdidos no vazio, segurando o telefone que pela milésima vez olhava para o celular esperando notícias da filha. Ela levou alguns segundos para perceber que o toque vinha dali, da linha fixa que quase nunca tocava. Joseph, do outro lado da sala, estava com uma garrafa de uísque pela metade e o rosto duro como pedra. Nem se mexeu. — Atende logo essa porcaria, mulher. Seja útil uma vez na vida.— resmungou, sem tirar os olhos da tela. Katy engoliu seco, já com o coração apertado antes mesmo de saber o motivo. Levantou devagar, como se algo dentro dela já soubesse que aquele som carregava um fim. — Alô? — disse, com a voz hesitante. Do outro lado, a voz séria de um policial. Formal. Fria. Informando sobre um incidente no chalé da família. Eloisa. Tiro. Fatal. Morreu no loc

Alguns meses depois... A cidade, que antes era um palco de tantos segredos e dores, agora via algumas histórias se encerrando, não com finais felizes, mas com o peso necessário para que novos começos fossem possíveis. Judite, após tanto tempo aprisionada em silêncio, finalmente falou. Seu depoimento foi dado com a voz embargada e as mãos trêmulas, mas com a consciência leve pela primeira vez em muito tempo. Contou tudo o que sabia. Revelou verdades que doeram, mas que libertaram. Quando saiu da delegacia, acompanhada pela mãe e pela irmã, carregava apenas uma mala e o vazio de tudo o que havia deixado para trás. Não havia mais laços ali. Nem rancor, nem desejo de viver uma vida de riqueza fácil. Apenas a urgência de um novo começo, longe dos olhares, dos julgamentos e das memórias que ardiam na pele. Recomeçaram em outra cidade, em uma casa pequena, com paredes vazias e um quintal esquecido. Já Joseph, esse conheceu a verdadeira ruína. Depois da morte de Eloisa, uma filha q

O primeiro raio de sol despontava tímido no horizonte, atravessando a cortina semiaberta do quarto e pintando o ambiente com um dourado suave. O som da chuva havia cessado, substituído por um silêncio pacífico, quase acolhedor. Elisa despertou lentamente, como quem flutuava entre o sonho e a realidade. Seus olhos se abriram devagar, e levou alguns segundos para perceber onde estava. A lembrança da noite anterior veio como um sussurro, e então ela sentiu: o calor ao lado. Henrique dormia tranquilo, o corpo parcialmente coberto pelo lençol branco, mas o peitoral firme e nu exposto. Elisa virou-se de lado, encarando-o. Seu rosto estava sereno, livre das tensões que costumava carregar no dia a dia. As sobrancelhas relaxadas, os cílios longos tocando de leve a pele sob os olhos. Uma mecha do cabelo bagunçado caía sobre a testa. Ela permitiu-se observá-lo. O perfume dele ainda pairava no ar, amadeirado, familiar. Invadia seus sentidos de forma lenta e intensa, como se cada partícula d

Elisa correspondeu. Suas mãos subiram até o pescoço dele, os dedos cravando levemente na nuca enquanto os lábios se encontravam em um beijo que não era suave, não era ensaiado, não era contido. A respiração dos dois se misturava. O beijo dizia tudo o que os silêncios guardaram. A dor, a raiva, o desejo, a saudade mal admitida. Nada importava naquele momento, exceto a sensação de finalmente se encontrarem, ali, no meio do caos, da confusão, da mágoa, um no outro. Porque, por mais que tudo estivesse errado entre eles… aquele beijo parecia ser a única coisa certa. — Que saudade que eu estava dos seus lábios.— Murmurou Henrique pausando lentamente os lábios nos dela. Elisa não conseguia dizer nada. Eles já haviam se beijado antes, porém nunca com essa intensidade, com esse desejo além da pele. O beijo ficou mais profundo, mais faminto. Henrique a prensou contra o corpo, como se quisesse colá-la a si, como se temesse que, ao soltar, ela desaparecesse. Elisa não recuou. As mãos de