O relógio marca dez e meia da manhã. Collor está sentado atrás de sua mesa de mármore preto, com as mangas da camisa arregaçadas e os olhos cravados nas folhas de um processo volumoso. O cliente à sua frente fala rápido, ansioso, mas Collor mal ouve. Apenas finge atenção enquanto risca algumas anotações num bloco.

— Isso não vai dar em nada. — diz ele, com a arrogância que sempre carregou na voz. — Eu conheço cada vírgula da lei. Sei onde apertar.

O cliente hesita. Está nervoso. Não pelo caso, mas pela tensão que há dias paira sobre aquele escritório. Há cochichos entre os estagiários, sussurros entre os advogados associados. Mas ninguém tem coragem de confrontá-lo. Collor nunca permitiu fraqueza por perto.

De repente, a porta é arrombada com um estrondo.

— POLÍCIA! NINGUÉM SE MEXE!

Vários agentes armados invadem o escritório com mandado em mãos. O som das vozes, o alvoroço dos funcionários e o tilintar de pastas derrubadas ecoam pelo ambiente luxuoso. Collor se levanta de s