Capítulo 58 – Ruínas e Pedidos
A casa estava estranhamente grande e vazia. Depois da porta bater, do som abafado dos passos de Miguel desaparecendo na rua, e do fechar seco do apartamento de Mariana, tudo que restou foi o eco das palavras — traição, mentira, esposa, filhas — que agora pareciam residir em cada canto. Helena sentou-se no chão, completamente imóvel, com as costas encostadas no sofá, as mãos tremendo, como se ainda estivesse segurando a respiração.
No começo houve silêncio. Depois uma torrente. As memórias dos últimos dias vinham em flashes: os cafés tomados juntos, os bilhetes enfiados sob a porta, o violão desafinado na praça, os beijos que pareciam promessas. Tudo aquilo se transformara em uma espécie de cena coreografada para alguém que havia omitido uma vida inteira. A dor que vinha não era apenas da mentira; era da ruptura da confiança — a confiança que Helena, com tanto custo, havia reconstruído depois de Daniel.
Ela levantou-se com dificuldade, caminhou pelo apart