capítulo 77 Labaredas silenciosas.
LíviaEliz sentou no braço do sofá como se fosse o trono de uma rainha cansada — e, de certa forma, era. No colo, Kaelion dormia tranquilo, alheio à tempestade de palavras que estava prestes a começar. Ela afagou o cabelinho dele com um gesto breve e respirou fundo antes de soltar, com o tom mais cortante que conheço:
— Fomos arrogantes, Lívia.
Levantei os olhos para ela, surpresa. Não era comum Eliz começar uma crítica incluindo a si mesma. E ainda mais raro: admitir um erro.
— Achamos que bastava força e boa intenção. Que podíamos pegar um punhado de sobreviventes e fazer deles uma nova história. Mas esquecemos o quanto o mundo lá fora é cruel. — Ela deu um meio sorriso torto. — E o quanto nós mesmas ainda carregávamos feridas abertas.
Ela ergueu os olhos para mim, com aquele brilho que só aparece quando vai falar algo que vai doer.
— Eu, você e Ania fundamos aquele abrigo achando que sabíamos o que estávamos fazendo. Sereias fugindo de caçadores, bruxas renegadas, orcs exi