Lívia
Meus olhos se prenderam aos de Amiel. Havia algo neles que me despia sem tocar, como se enxergasse não meu corpo, mas as feridas que ainda pulsavam baixinho sob a pele. Ele esperava. Não por um sim imediato, mas por uma resposta sincera. Uma entrega real.
Respirei fundo, sentindo o peso da escolha não no corpo — que tremia pela presença dos dois —, mas na alma ainda assustada. As lembranças não voltavam com dor, mas também não haviam ido embora.
— Eu... ainda não sei. — confessei, num sussurro. — Mas não quero dormir sozinha hoje.
Antero, até então em silêncio, se aproximou. Tocou meus cabelos, afastando uma mecha do meu rosto com um gesto que não exigia nada, apenas oferecia aconchego.
— Dormir com você — disse ele, com voz grave e baixa — é o suficiente. É mais do que suficiente.
Amiel passou os dedos pela minha mão, e então pelos braços, como se desenhasse em mim um mapa de calma.
Assenti, e meus olhos marejaram, mas era diferente daquela dor sufocante. Era um