Dúvidas.

(Naila)

Ele olhou confuso para mim, mas então indicou para porta. — Fui chamado para consertar a porta. Não é aqui?

Chamou tão rápido assim? Nem faz tanto tempo que ele saiu.

— Sim! Pode ficar a vontade. — disse me levantando. Fiquei olhando até ele terminar de consertar a porta. E me entregou as chaves.

— Falta uma chave aqui! Não são três?

— Não! Aqui só tem duas. Depois pergunte ao seu namorado, foi ele quem me entregou os materiais.

Um sorriso pequeno surgiu em meus lábios. Provavelmente por ele ter pensado em mim. Agora sou sua namorada afinal.

— Obrigada! Depois eu falo com ele. — O homem de quase cinquenta anos, acenou antes de sair.

No trabalho, acabava de sair da sala VIP de um paciente que tinha acabado de ser diagnosticado com câncer terminal. Victor, jovem e muito bonito, era uma pena que estava morrendo.

Olhei para o celular e vi as horas. Mas estava mesmo à espera de alguma ligação do Nolan. Algum sinal de que ele está bem.

— Naila! Parece preocupada. Aconteceu alguma coisa? — Jacira minha colega de turno, me tirou dos meus devaneios. — Ouvi dizer que seu paciente será transferido. É incrível como os ricos acreditam que o dinheiro poderá salvá-los..

— O Victor não é assim.— falei, bloqueei o ecrã do celular e olhei para ela. Cruzei os braços e as pernas.— Ele sabe que não tem muito tempo.

— Sei! — Passou por mim, enquanto preparava a medicação do seu paciente.— Madison disse que estão te esperando lá fora.

— Quem?

— Não sei! Não disse o nome. Mas parecia bem impaciente.

— Ok! Vamos lá ver quem quer me ver.

— Tome cuidado! — Disse antes de sair.

Caminhei pelo corredor com os fones de ouvido. Ouvindo no volume máximo. Quando cheguei até a recepção e não encontrei ninguém. Com a exceção de uma enfermeira caída ao chão.

— Stela? — Corri para ver se ela estava bem. — o que aconteceu… meu Deus.

— Calma! Só fiz ela cair. — Disse a mulher que caminhou em minha direção de saltos altos, que pareciam bem caros. — Que mulher medrosa.

— Syara? O que você fez? — Peguei álcool para tentar reanimá-la. — Se importa de me ajudar?

— Nem pensar. Não coloco minhas mãos nesse monte de trapo jogado no chão.

Stela, estava quase acordando, com tonturas.

Ajudei ela a se sentar na cadeira que estava ao lado.

— Oi! Você está bem? — Perguntei.

Syara pigarreou.

O olhar dela voou até a mulher vestida de forma extravagante, que provocou o desmaio dela.

— Sai daqui sua louca! — gritou. Outros pacientes ficaram olhando para nós. — Você quis me matar. Como…pode fazer isso.— disse enquanto tossia.

Stela se levantou com dificuldade, e muita raiva, batia no ombro de Syara, fazendo ela dar alguns passos para trás.

Ela sorria, parecia satisfeita pelo caos que tinha acabado de criar.

— Espera Stela. — fiquei no meio das duas.— Vai embora Syara. Depois a gente conversa. — Disse.

Ela se afastou de nós ainda sorrindo. Segurei Stela até que o som dos saltos se tornaram inaudíveis.

Aquela garota não parece nada normal. Nada.

A noite, fui o mais rápido para o apartamento do Nolan. Bati a porta com toda força, o suficiente para incomodar a vizinhança.

Ele abriu, e estava quase sem roupa. — Naila? Não deveria estar trabalhando? — Sua cara de sono era atraente. Até isso era atraente. Super. Mas não podia esquecer o motivo pela qual estou aqui.

— Onde ela está? — entrei sem ser convidada. Atirei a bolsa no sofá. O mesmo sofá onde a gente fazia amor. Sexo, todo tipo de sexo.

— De quem está falando? — a porta fechou-se. — Acha que estou te traindo?

Olhei para ele, achando que tinha mais chance de estar escondendo ela. Entrei em todos os quartos, procurando por ela. Ela sempre vivia aqui, como se a casa fosse dela.

Quando olhei para todo lugar não a encontrei. Ele estava falando a verdade. E eu não acreditei.

— Já encontrou o que estava procurando? — Ele estava de boxer, servindo um copo de água para ele mesmo. — Viu por baixo da cama?

— Desculpa! Estava dando em louca a procura da Syara. — disse coçando a cabeça, deixando os meus cabelos de lado.

— E porquê está procurando por ela? Aconteceu alguma coisa?

— Ela quase matou alguém.— Nolan olhou para mim como se tivesse contado alguma piada. Ou algo absurdamente ridículo. — Você não acredita? — tirei o celular e mostrei as fotos para ele. As marcas no pescoço da Stela.

— O que é isso? Ela sofre algum tipo de violência doméstica ou algo do tipo?

— Foi a Syara quem fez isso. Ela simplesmente apertou o pescoço da minha colega por besteira dela. E fez isso com um tubo de soro. — disse exaltada.

Milagrosamente a porta do quarto dele abriu-se. E ela, de cabelos loiros molhados, e completamente nua saiu, caminhando lentamente. O tempo pareceu parar com ela molhada, o corpo dela é lindo. A pele dela é tão bonita e radiante.

Mas então eu me toquei.

Ela está nua. A frente do meu namorado. Completamente nua. Como veio ao mundo.

O olhar do Nolan pareceu mais hipnótico do que o meu. Eu notei, o volume em seu boxer. Isso me deixou com o coração apertado. Por mais que eles tenham crescido juntos, ele ainda é homem. E ela mulher.

— O que vocês fizeram? Vocês não são irmãos? — Perguntei assustada com a possibilidade de eles terem dormido juntos hoje mesmo. Mesmo que não sejam de sangue ainda são irmãos.

De criação.

— Porquê ela está aqui? Assim? E saindo do seu quarto. — a minha voz saiu rouca na última palavra.

Ela continuou caminhando, mas em direção dele. — O que foi? Tem medo de ser corna?

— Nolan.

— O que está fazendo aqui? Como entrou na minha casa?

— Sério que querem gastar vossas perguntas assim? — Ela sentou-se no sofá e cruzou as pernas. — Não estou interessada nesse monte de bosta aí. Pode ficar calma.

Corri até ao banheiro e peguei uma toalha comprida. Joguei e mandei ela se cobrir. — Ficou louca? Como pode andar assim pela casa de um homem comprometido?

— Comprometido? O que acha que é para ele? Esposa.

— Chega Syara! — Ele disse.— pode se cobrir e ir embora?

Syara olhou para mim e se levantou. Jogando a toalha ao chão.

— Você vai morrer de decepção e desgosto. Muito em breve. Eu mesma vou tratar de enviar o convite. — Ela sorriu, maliciosa. E caminhou pelo corredor.— Eu só queria me depilar, não podia fazer isso no campus. Agora tenho uma nova colega de quarto. Vocês não imaginam o quão chata ela é. Sempre tagarelando. Daqui a pouco eu juro que prendo ela pela janela e uma corda para segurá-la no pescoço. — ela vestia-se a nossa frente. O mais impressionante é que em nenhum momento ele desviou o olhar. Como eu consigo estar em um lugar assim?

E ela ainda continuava a falar.— Não esquece que temos um jantar daqui a dois dias, precisamos ir mais cedo. E que tal se formos de carro? Estou cansada de ir de avião. Afinal são só duas horas.

— Pode parar de falar? Isso aqui é muito estranho. — Nolan tirou a toalha do chão e colocou a volta da cintura. — Precisa parar de entrar assim em minha casa…

Ela o interrompeu antes que terminasse. — Nossa casa! Não esqueça que esse prédio é do meu pai. E meu futuramente.

Foi mais uma coisa descoberta.

— Eu comprei. Não estou vivendo de favor.

— Tanto faz! O prédio é meu. Destruo se quiser. — ela caminhou até mim. — E você! — Apontou para mim, com o celular que pegou na mesa.— Nem tente querer me desafiar. Pergunte a sua colega como é estar perto da morte.

Minha pele ficou arrepiada.

Não queria admitir, mas ela me deixava sim nervosa. — Adeusinho…

Ela saiu. Deixando o cheiro do seu perfume árabe esquisito pra caramba.

— Ela cheira a despedida. — disse, baixo. Mas para mim do que para ele. Mas ele ouviu.

— Ela mesma escolheu os ingredientes para fazê-lo. — caminhou até seu quarto.

Não entendi nada do que acabou de acontecer aqui. E continuo sem entender, o que raio ainda estou fazendo aqui.

Pequei a minha bolsa e fui embora, sem nem precisar me despedir. Não sei quem é louco, ele ou ela.

A ligação da Madison me tirou da raiva e insegurança que estava me cegando.

— O que foi? — Atendi.

— Calma! Precisava falar desse jeito?

Respirei fundo. Estava descontando a raiva em quem não deveria.

— Desculpa! Não deveria ter respondido assim. Estou num momento difícil. Mas não deveria estar falando assim contigo.

— Tá! Como quiser! Amanhã vamos precisar trabalhar. Mudança de turno. Parece que a equipa de hoje está sob investigação. Topa?

— Tem outra escolha?

— Não!

— Tá! Amanhã eu apareço bem cedo.

O celular desligou. Caminhei em direção a paragem de ônibus. Esperei por longos minutos até conseguir um.

Mas aquela toda cena não saía da minha cabeça. Ela nua, ele claramente excitado. O que ela fez com Stela e ele nem deu a mínima.

Nem deu a mínima. Nenhum pouco. Não fez nada para impedir, apenas olhou.

Será que estou no lugar errado? Na relação errada? Ou será que sou a terceira?

— Naila? O que está pensando? — perguntou a minha chefe de turno.

— Se devo continuar. Meu histórico de relacionamentos nunca foi muito bom. E agora…

Ela parou o que estava fazendo e olhou para mim. Com pena ou com cara de idiota.

— Pareço tão idiota assim? Porque me olha dessa forma? — Como se eu já não soubesse a resposta.

— Já fez o pré-natal?

Senti meu rosto ficar vermelho num momento e no outro perder toda cor.

— O que disse? — gaguejei.

— Quanto tempo? — permaneci em silêncio, um silêncio quase tão mortal como o medo que me apavora. — Ele sabe?

— Não!

Foi a única coisa que eu consegui responder. Tão rápido quanto os batimentos do meu coração.

— Já tem uma criança envolvida. Deveria ter se protegido melhor. Agora que aconteceu, pense direito no que quer fazer. Criança é uma benção. Uma benção que acaba com as tuas energias, economias e tranquilidade. Sem falar na paz de espírito de solteira.

— Eu sei! Minha mãe dizia a mesma coisa!

— A Madison me contou que sua mãe morreu a um ano. Meus sentimentos.

— Obrigada! Foi muito forte. — Pigarreei. — Ele ainda não sabe. E nem sei como contar.

— E que tal se começar com: Oi nós transamos e eu estou grávida. Pronto. Simples assim. O que há de complicado?

Deveria ser simples assim. Mas e se ele não quer ter filhos?

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