Era uma noite fria e silenciosa em Londres. As ruas estreitas dos subúrbios, mal iluminadas e cercadas por edifícios decadentes, serviam como o cenário sombrio para uma caçada que já durava três intermináveis meses. Adam e sua equipe estavam implacáveis em sua missão: capturar Luca - o homem que conseguira se esconder nas sombras, como um fantasma, sempre um passo à frente.Luca estava exausto. Seus olhos fundos e sua barba por fazer denunciavam dias mal dormidos e uma fuga constante. Sua jornada o levara até Londres, mas ele sabia que o tempo estava se esgotando. Othon, seu inimigo e antigo aliado, estava em seu encalço. E, além disso, havia outra obsessão: Alice. Ela havia desaparecido assim que ele chegou à cidade. Luca a procurava como um louco, convencido de que Giovanni - o homem que acreditava estar morto - era o responsável por seu sumiço. Não sabia que Giovanni havia mudado de nome, apagado seu passado e renascido como alguém que só queria protegê-la.Giovanni não apenas quer
GiovanniEstou ansioso. Uma ansiedade que pulsa como uma corrente elétrica sob minha pele. Meses de buscas incansáveis, noites em claro e um coração alimentado por revolta e luto me conduziram até aqui. Luca foi capturado. E só o pensamento dele atrás das grades acende em mim um turbilhão de sentimentos - raiva, mágoa, um alívio amargo. É como estar à beira de uma tempestade que fui forçado a suportar por tempo demais.Às vezes, me pego lembrando de um tempo que parece pertencer a outra vida. Dias em que o sol tingia o céu de tons alaranjados e eu ia para o trabalho com um sorriso no rosto, acreditando que minha existência estava completa. Mas tudo desmoronou em questão de horas.As lembranças vêm com violência, afiadas como lâminas. Vejo o vinhedo ao longe, silencioso demais. Lembro das luzes apagadas, da brisa fria que correu pela minha espinha quando comecei a correr, sentindo que algo estava errado. O pavor tomou conta do meu corpo antes mesmo de ver o que havia acontecido. Mas na
Giovanni estava inquieto. A ampla sala no último andar do edifício espelhado em Londres, com sua vista panorâmica da cidade nublada, não lhe oferecia consolo naquela manhã fria. Sentado à frente de uma imensa parede de vidro, sua mente fervilhava com uma mistura perigosa de euforia, preocupação e angústia. A captura de Luca havia sido concluída, e o homem estava sob vigilância rigorosa em um esconderijo confidencial. Mas, apesar disso, Giovanni não encontrava paz.Seu coração e seus pensamentos pertenciam a um nome que ecoava silenciosamente dentro dele: Alice.Ela era a contradição viva em sua existência. A filha do homem que havia destruído sua vida. E, ainda assim, a única que conseguia acalmar o caos que existia dentro dele. Giovanni compreendia o medo que ela carregava. Sabia da sombra que Luca projetava sobre ela. E por isso havia tomado a decisão de afastá-la, de escondê-la em segurança sob uma nova identidade, em um país distante.Mas agora, o silêncio de Alice o consumia.Tud
Júlia mal conseguia manter os olhos abertos quando finalmente chegou ao prédio onde morava. O dia fora exaustivo - o trabalho foi intenso, seguido por uma noite longa na faculdade. Seus músculos doíam e os pensamentos embaralhados se arrastavam junto com seus passos pelo corredor silencioso do prédio. O relógio marcava uma hora avançada da madrugada, e tudo o que ela desejava era uma cama e silêncio.Subiu as escadas com lentidão, cada degrau mais pesado que o anterior, como se o cansaço tivesse se acumulado em seus ombros. Quando chegou à porta do apartamento, soltou um suspiro longo, aliviado. Revirou a bolsa com mãos trêmulas até encontrar o molho de chaves. Com um movimento cansado, destrancou a porta e empurrou-a para dentro.Ao acender as luzes da sala, parou abruptamente. O coração quase saiu pela boca. Seus olhos se arregalaram em puro choque ao encontrar, sentado casualmente no sofá, Adam. Ele estava lá, tranquilo, como se fosse o dono do lugar.Júlia congelou. Como ele tinha
GiovanniEstava no meu apartamento - um refúgio silencioso e sombrio no último andar de um dos prédios mais luxuosos de Londres. A escuridão preenchia o ambiente como um véu espesso, rompido apenas pelas luzes da cidade que cintilavam do lado de fora, distantes e indiferentes à tempestade dentro de mim. A brisa gélida entrava pelas janelas escancaradas, cortando o calor artificial como se quisesse despertar algo que eu havia enterrado.Era sexta-feira. Mas isso pouco significava. Os dias perderam seus nomes desde o dia em que minha vida foi despedaçada. Permaneci de pé, parado diante do vidro, observando os carros em movimento e as pessoas em miniatura, vivendo vidas normais. O mundo lá fora seguia seu curso, ignorando o luto e a ruína que me consumiam.Pensei na razão que me manteve vivo por tanto tempo: vingança. A necessidade de ver Luca pagar por cada vida que destruiu - especialmente as da minha esposa e do meu filho. Por isso desapareci. Mudei meu nome, minha história, minha fac
AliceCinco anos depoisO vento suave atravessa a cortina branca, dançando pela sala e me alcançando enquanto estou parada diante da imensa janela de vidro. Do outro lado, o jardim se estende como uma pintura viva, com uma fonte clássica ao centro e canteiros floridos que exibem rosas de todas as cores imagináveis. Os raios dourados do sol tocam as folhas, fazendo-as brilhar como se o próprio tempo tivesse pausado ali.Estou serena, envolta num silêncio íntimo, acompanhando com o olhar minha filha, Maria, de cinco anos, correndo alegremente com a babá pelos caminhos de pedra do jardim. Ela ri com a leveza que só a infância conhece, e por um instante, parece que tudo está em paz.Cinco anos se passaram desde que minha vida deu uma reviravolta. Descobri verdades dolorosas sobre o meu passado, sobre a história sangrenta da minha família... e sobre Giovanni. Descobri os segredos que ele carregava como correntes, pesadas, sufocantes. E mesmo que aquilo tudo tenha despedaçado minha alma na
GiovanniEstava sentado no meu escritório, no topo do prédio onde a cidade inteira parecia se curvar aos meus pés. A sala da presidência era silenciosa, ampla, elegante - mas fria como o vazio que me acompanhava há cinco anos. Folheava documentos, fingindo interesse, tentando me convencer de que o trabalho ainda era suficiente para preencher a ausência que Alice deixou.Mas como sempre, ela invadia meus pensamentos. Inevitável. Alice era minha incógnita. Minha ferida aberta. O nome que ecoava na minha mente todas as noites. Eu a desejei de volta tantas vezes que já perdi a conta. Mesmo sabendo que fui o responsável por afastá-la, ainda me pegava imaginando como teria sido se eu tivesse feito diferente.A noite estava escura do lado de fora, o céu encoberto como se refletisse meu humor. Inclinei-me na poltrona de couro, sentindo o peso de cada lembrança. Do lado de fora da porta de vidro fosco, minha secretária se preparava para ir embora. Ela deu duas batidinhas antes de se despedir.
GiovanniHoje foi um daqueles dias que fazem você questionar o próprio propósito de existir. Os fantasmas do passado, o peso esmagador dos últimos cinco anos, tudo parecia cair sobre mim como uma âncora arrastando meu corpo para as profundezas de um oceano escuro e sem fim. Eu precisava respirar. Precisava esquecer. Por isso, ali estava eu - sentado naquele velho bar anexo ao restaurante que costumo frequentar, o copo de uísque quase vazio entre meus dedos. Achei que talvez uma ou duas doses bastassem para silenciar a dor latejante em minha cabeça. Mas eu sabia que não.Luca ainda estava vivo. Escondido em algum buraco, cercado pelos meus homens, esperando pela hora certa. A cada novo amanhecer com ele respirando, minha preocupação com Alice crescia. Eu não fazia ideia de onde ela estava, e esse desconhecido me corroía por dentro. Mesmo que eu tentasse me convencer de que ela nunca voltaria para mim, o sentimento era teimoso. Desejava-a como nunca. Amava-a mais do que deveria.Enquant