GiovanniEu estava parado junto à janela do meu apartamento, no último andar do edifício mais imponente da capital londrina, observando a cidade que nunca dormia. As luzes dos postes e dos arranha-céus compunham um mosaico vibrante que cortava a escuridão da noite. Para muitos, aquela visão seria motivo de encanto. Para mim, era apenas o pano de fundo dos meus planos sombrios.Minha mente fervilhava com pensamentos frios e meticulosamente calculados. Eu era conhecido por ser implacável, alguém que não hesitava quando o assunto era vingança. E naquela noite, esse desejo ardia dentro de mim com mais intensidade do que nunca. Alice... tão inocente, tão vulnerável. Não era culpada pelos crimes do pai, mas isso não importava. Eu a usaria como peça-chave no meu jogo de vingança. Ela pagaria pelos pecados de Luca, mesmo sem merecer.Enquanto observava as luzes ao longe, imaginei como seria seduzi-la, conquistar sua confiança e fazê-la se apaixonar por mim. Pintava em minha mente uma vida ao
PolôniaOthon permanecia imóvel na varanda de sua imponente propriedade, uma figura esculpida na penumbra do entardecer. O rosto marcado pelo tempo parecia feito de pedra, inexpressivo, como se há muito tivesse esquecido como sentir. À sua frente, estendia-se um vasto campo, uma tapeçaria viva de pastagens verdejantes e flores silvestres em tons de azul, vermelho e amarelo. A beleza do cenário contrastava de forma cruel com a escuridão que dominava seu interior.O sol mergulhava lentamente no horizonte, tingindo o céu de tons dourados e rosados, mas nada daquilo comovia Othon. A fúria queimava dentro dele, densa e silenciosa, como a lava de um vulcão prestes a explodir. Desde o desaparecimento de Alice, um vazio tomou conta de seus dias - e, mais do que isso, a humilhação de ter sido desafiado publicamente.Alice, com apenas vinte anos, havia capturado sua atenção no instante em que seus olhos a encontraram. Jovem, delicada, perfeita para ocupar o lugar ao seu lado. Othon, homem de id
AliceEu sabia que não deveria estar tão ansiosa pelo fim da aula. Pensar em Giovanni era um erro. Um erro que poderia me custar o emprego. Ainda assim, não consegui evitar.A última aula da faculdade se arrastava como um pesadelo sem fim. Meus pés balançavam inquietos debaixo da cadeira, e eu olhava para o relógio na parede a cada minuto, como se isso fosse acelerar o tempo. Quem me visse pensaria que eu estava preocupada com o horário do trabalho - e essa era a desculpa perfeita. Mas a verdade era outra. Eu só queria voltar para o lago, para a presença dele.Giovanni.Meu chefe.A simples lembrança do seu sorriso me fazia corar. Ele era sedutor, carregava uma aura de poder e mistério que me prendia como uma corrente invisível. Seus olhos, profundos e intensos, pareciam ler meus pensamentos. E aquele perfume... masculino, envolvente... Era suficiente para me arrepiar toda vez que ele passava por mim. Eu era só uma assistente novata na empresa, mas nossos encontros haviam cruzado uma
GiovanniHavia algo errado comigo.Desde a noite passada, não conseguia afastar Alice dos meus pensamentos. Eu não queria sentir remorso ou pena. Isso enfraquecia. Eu deveria ser frio... calculista. Como Luca.Mas me comparar a ele era quase uma ofensa.Aquele homem puxou o gatilho sem hesitar, mirando no ventre da minha esposa grávida. Cometeu atrocidades sem sequer piscar e ainda hoje anda por aí como se fosse intocável. Já eu... estava aqui, perturbado por ter pedido a Adam que apenas assustasse uma garota - uma jovem que, por ironia do destino, eu planejava transformar em minha esposa.No entanto, meus planos estavam começando a ruir por dentro.Já fazia alguns dias que ela aparecia nesse escritório, e cada vez que a via, algo dentro de mim vacilava. Alice era gentil, educada, determinada... Tinha um olhar doce, angelical, e um sorriso que me lembrava de Polina. Era impossível não notar. Mas não podia compará-las. Uma foi o amor da minha vida. A outra... carrega o sangue do homem
AliceEu estava ali, diante de Giovanni, observando-o com uma mistura sufocante de medo e tristeza. Meus sentimentos por ele eram um turbilhão confuso, algo que eu lutava para ignorar, mas naquele momento, o que mais pesava era o olhar de preocupação que ele me lançava - tão genuíno que me desmontava por dentro.Ele estava agachado à minha frente, segurando com delicadeza meu tornozelo inchado, enquanto eu tentava não tremer com a dor. A cada vez que nossos olhares se encontravam, eu via algo que me desarmava completamente: a promessa silenciosa de proteção.De repente, ele se levantou sem dizer nada e saiu da sala, me deixando confusa, com o coração acelerado, sem entender o que se passava. Por instantes, me senti abandonada... mas logo percebi que isso era irracional. Giovanni não parecia o tipo de homem que sumia sem motivo.Eu sabia que precisava ir embora. Largar aquele emprego, desaparecer daquele país e apagar qualquer rastro do meu passado. Mas para fazer isso, eu teria que re
GiovanniNo instante em que percebi que Alice estava machucada, algo dentro de mim mudou. Por um breve momento, toda a frieza cuidadosamente cultivada ao longo dos últimos anos, toda a estratégia, vingança e controle... tudo isso ficou em segundo plano. A preocupação tomou conta de mim com uma intensidade que não pude conter.Ela era inocente. Ainda que fizesse parte do meu plano, não merecia sofrer. Aquilo não estava nos meus cálculos. Eu não sabia ao certo se um dos meus homens havia se excedido ou se o ocorrido era consequência indireta da ordem que dei na noite anterior. Não importava. O que importava era que Alice estava ferida, e eu... genuinamente preocupado.Seu tornozelo estava visivelmente inchado, e eu temia que fosse algo sério - talvez uma fratura. Quando a tomei nos braços e a levei até o hospital, pude sentir o quanto ela estava assustada. Havia algo em seus olhos... um terror contido, antigo, que não dizia respeito apenas à dor física. Era medo de algo maior, mais prof
AliceEu continuava deitada na cama do hospital, com a mente tomada por um turbilhão de pensamentos desconexos. O médico acabara de me informar que, felizmente, meu ferimento não passava de uma torção. Um alívio imediato percorreu meu corpo, mas a confusão e o medo permaneciam, espessos como neblina.Giovanni entrou na sala pouco depois, com a expressão séria e determinada. Sem perder tempo, aproximou-se do médico e começou a fazer perguntas minuciosas sobre o diagnóstico, os cuidados, o tratamento... Sua postura protetora, tão firme e decidida, me pegou de surpresa. Ninguém jamais se preocupou assim comigo.Quando o médico me liberou, Giovanni prontamente se ofereceu para me levar para casa - e, por mais que minha mente gritasse para recusar, meu corpo, cansado e dolorido, aceitou.No entanto, minha cabeça era um caos. Eu sabia que estava entrando em um território perigoso. Parte de mim queria correr, desaparecer, sair daquele país sem deixar vestígios. Como poderia contar a ele que
AliceSaí do banho lentamente, deixando a água quente escorrer pelo meu corpo como se pudesse, de alguma forma, levar consigo toda a tensão acumulada daquele dia turbulento. Cada gota parecia tentar dissolver um pouco da confusão que habitava minha mente. Mas, por mais que eu quisesse relaxar, minha cabeça continuava em ebulição, presa entre pensamentos desconexos e memórias que insistiam em me atormentar.Senti o peito apertado enquanto enxugava o corpo com a toalha, ainda desnorteada. O dia havia sido intenso, cheio de reviravoltas. Eu me perguntava, entre um suspiro e outro, se havia feito a escolha certa ao contar a Giovanni tanto da minha história. Mal nos conhecíamos, e, de repente, ele já ocupava um espaço significativo demais nos meus pensamentos - e talvez, até no meu coração.Giovanni era um enigma. A fama que o precedia, de um homem imprevisível, temperamental e frio, ainda não tinha se confirmado aos meus olhos. Pelo contrário. Ele me tratava com um cuidado quase reverente