O medo era um nó na garganta, me paralisando. A voz de Madame Bouvary, ecoando pelo salão, anunciou minha entrada. A cabeça baixa, os passos pesados como se cada pé pesasse uma tonelada de chumbo. O coração batia forte, ameaçando explodir o meu peito. Cheguei ao palco improvisado, onde Bouvary me esperava com um sorriso falso, cruel. Sua mão na minha, um giro brusco, e me senti exposta, um frango destinado ao abate. Os homens, jovens e velhos, me olhavam com uma voracidade animalesca, salivando como se eu fosse um pedaço de carne. Nunca me senti tão vulnerável, tão amedrontada.
__“Essa jovem ruiva só tem 19 anos, cavalheiros, ainda uma flor em botão, e somente um de vocês terá o privilégio de vê-la desabrochar. Primeiro lance...” Cem mil. Duzentos mil. Os números subiam, cada lance me dilacerando por dentro. Eu era um objeto, sendo avaliado, comprado, meu valor medido em dinheiro. As lágrimas escorriam sem parar, incontroláveis. A disputa acirrada entre os homens, até que uma voz firme, desconhecida, fez o lance final – um valor exorbitante que silenciou a todos. Um murmúrio, um protesto: “ ___Não é justo. Qual o interesse de Moretti?” alguém proferiu A sentença foi proferida: __“Vendida para Ângelo Moretti...” Permaneci de cabeça baixa, as lágrimas caindo no chão, molhando o tecido do meu vestido. Então, do fundo escuro do salão, surgiu ele. Um homem enorme, musculoso, coberto de tatuagens. Precisei levantar a cabeça para ver seu rosto – frio, duro, implacável. O medo me paralisou novamente. Antes que ele me alcançasse, um grito cortou o silêncio: “Ah, Moretti, não é justo! Por que estragou nossa diversão? Já tens tudo, deixa essa ruivinha para nós...” Uma gargalhada estrondosa ecoou pelo salão. Ele apertou minha bochecha com o polegar, me fazendo chorar ainda mais. __ “Também mereço me divertir, não acham?” Ninguém ousou responder. Ele me pegou nos braços, me jogando sobre o ombro como se eu fosse um fardo sem peso. Os olhares daqueles homens me seguiram enquanto ele me carregava para fora do salão. Bouvary veio correndo atrás de nós. Ele parou, esperando, mas sem se virar. ___“Você não vai precisar de quarto?” ela perguntou. __“Nesta espelunca? Não mesmo, irei para um lugar confortável.” Ele abriu a porta de seu carro de luxo e praticamente me jogou lá dentro, colocando o cinto de segurança com brutalidade. Apertado demais, me sufocando. __“Demarco acertará tudo contigo...” Eu, em silêncio até então, finalmente encontrei minha voz, a única coisa que importava naquele momento: salvar minha irmã. __“E meu dinheiro?” Um sorriso cruel brilhou em seus lábios grossos. __“Acha que vou te dar calote, doçura?” Não respondi. Me encolhi ainda mais no banco de couro do carro. Ele deu a volta, entrou no veículo e pisou fundo. O cheiro de gasolina e couro ainda impregnava minhas narinas quando ele abriu a porta do carro. A mão dele, grande e áspera, envolveu a minha, puxando-me para fora com uma força que me fez perder o equilíbrio por um instante. O movimento foi brusco, sem delicadeza, e a sensação de pavor me gelou por dentro. Ele me arrastou até o elevador, apertando o botão do térreo sem olhar para trás. O silêncio no elevador era opressor. Ele ficou de frente, impassível, a expressão séria e distante. Aproveitei aquele breve momento para observá-lo. Os braços musculosos, a mão que segurava a minha com firmeza, o rosto marmoreo emoldurado por uma barba rala. Cabelos negros e brilhantes, sobrancelhas grossas, e olhos… olhos de harpia, penetrantes e escuros. Ele percebeu meu olhar e se virou, seus olhos encontrando os meus. Um arrepio percorreu minha espinha. Desviei o olhar, fixando-o no chão frio e polido. Saímos do elevador e entramos em um corredor escuro. Ele usou um cartão para abrir uma porta, e eu hesitei, mas ele me puxou para dentro. O ambiente era opulento, com persianas pesadas, poltronas de couro e lustres de cristal, mas a decoração em tons escuros e a iluminação fraca criavam uma atmosfera de medo. Passamos por uma sala menor, igualmente luxuosa, com tapete persa e móveis antigos, tudo transmitindo uma sensação ameaçadora. No fim do corredor, uma porta. Meu coração batia forte no peito. Sabia o que me esperava. Era um quarto enorme, maior que a minha casa inteira. Uma cama king-size dominava o espaço, ao lado um closet imponente e uma porta que imagino ser o banheiro. Um frigobar discreto completava o cenário. Ele pegou uma garrafa de uísque e bebeu um gole direto da garrafa. __“Aceita, menina?” __“Não, senhor…” __“Moretti.” _“Moretti…” A palavra saiu estranha em meus lábios, e pelo seu olhar, percebi que ele também achou. __“Se fosse você, beberia. Para relaxar…” A suavidade na voz era uma provocação. Peguei a garrafa, tomei um gole hesitante e quase engasguei. Ele foi até o outro lado do quarto, digitou um código numa placa e fez uma varredura na íris. Uma porta secreta se abriu, revelando um cofre. Havia mais dinheiro ali do que eu havia visto em toda a minha vida. Ele pegou vários maços de dólares, colocou numa maleta prateada e voltou até mim. __“Seu pagamento. Agora me dê o que comprei.” Segurei a maleta, sentindo o peso do dinheiro e o peso da minha decisão. Eu tinha o dinheiro para pagar a dívida da máfia, para salvar minha irmã. Mas a que custo? __“Então?” A voz dele era incisiva. Como não respondi, ele pegou a maleta de volta, um sorriso cruel nos lábios. __“Sim ou não?” Ele parecia se divertir com meu desespero. Queria fugir, mas minha irmã precisava de mim. Resignada, peguei a maleta de volta. __“Exatamente como imaginei…” Ele a colocou no criado-mudo e começou a desabotoar a camisa. “ __Tire a roupa.” Fiquei paralisada, olhando para ele sem me mover. __“Você vai ser gentil?” A gargalhada dele ecoou pelo quarto. __“Não paguei tão caro para ser carinhoso. Vou te foder com força, doçura. Quero te ver gritando alto…” Antes que eu pudesse processar suas palavras, ele estava sobre mim, arrancando meu vestido e me jogando na cama. Ele se despiu e montou em mim, seu peso me esmagando contra o colchão. __“Não vai caber…” __“Ah, vai sim…” Seu corpo se enfiou em mim de uma vez, sem nenhum preparo. Meu grito rasgou a noite. Ele se ergueu e enfiou de novo, de novo e de novo. O barulho de nossos corpos se chocando era ensurdecedor, misturado com meus imploros desesperados para que ele parasse. Em dado momento, ele colocou a mão em volta do meu pescoço, apertando com força enquanto me socava sem parar. A dor física se misturava à humilhação e ao terror. A tortura durou horas. Ele era incansável. Exausta, derrotada, simplesmente me entreguei, imóvel, sentindo tudo, minhas lágrimas silenciosas encharcando o travesseiro. Até que ele uivou, e caiu sobre mim, exausto.