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2 - A CASA DAS SOMBRAS

O carro parou. O motorista — homem, uniforme impecável, postura rígida, rosto neutro — abriu a porta. Clara respirou fundo, mas o ar pareceu mais pesado ali.

O hall de entrada era amplo e frio; o mármore branco refletia seu rosto pálido e os olhos cansados. As paredes altas, espelhadas por lustres enormes, pareciam observá-la. Passos ecoaram atrás das portas internas.

A primeira a aparecer foi Suzana.

Mulher elegante, por volta dos 45 anos. Cabelos loiros presos em um coque milimetricamente alinhado, maquiagem impecável, postura ereta e imponente. O olhar afiado avaliava como bisturi. Nenhuma lágrima, nenhum descontrole — apenas serenidade dura, quase ameaçadora. Os olhos percorriam Clara com frieza e curiosidade calculada.

— Então é você — disse Suzana, sem sorrir. — A esposa do meu enteado.

Clara assentiu, insegura.

Sua pele clara estava marcada pelo cansaço, olheiras roxas denunciavam a noite sem descanso. Seus cabelos castanhos e longos estavam presos às pressas, e mesmo assim ela carregava uma beleza suave.

— Eu… vim assim que pude. Como ele está? Já encontraram alguma coisa?

Suzana respirou devagar.

— Ainda não. Mas esperamos respostas logo.

Do segundo andar, passos corridos.

Sabrina apareceu.

A jovem, cerca de 25 anos, tinha cabelos castanho-claros soltos e bagunçados; olhos inchados e vermelhos de tanto chorar. Usava um moletom largo, contrastando com a formalidade do lugar. Ela desceu quase tropeçando e, diferente de Suzana, correu para abraçar Clara.

— Você veio — sussurrou, soluçando. — Ele vai voltar… ele tem que voltar… Temos que ter esperança.

Clara fechou os olhos para conter o choro.

— Também acredito — respondeu, com a voz fraca.

Suzana retomou o comando.

— Você deve estar exausta. — Ela fez sinal para uma funcionária. — Marina, leve-a ao quarto de hóspedes. Depois traga algo quente para ela comer.

Marina era uma mulher de cerca de 40 anos, uniforme alinhado, cabelos presos em um coque simples. O olhar dela era o único acolhedor naquele ambiente enorme.

Clara a seguiu pelos corredores decorados com grandes quadros de antepassados, molduras douradas e tapete felpudo. Cada porta fechada parecia esconder memórias que não eram suas. O peso do desconhecido apertava o peito.

O quarto era grande, iluminado, com cortinas longas, cama imensa e perfume suave de lavanda. Clara sentou-se — o colchão afundou levemente sob seu corpo frágil. Pegou o celular, esperando uma mensagem de milagre.

Nada.

Abraçou os joelhos e chorou silenciosamente. Lágrimas escorreram até molhar o travesseiro. Naquele quarto estranho, ela desejou que tudo fosse mentira.

Clara dormiu vencida pelo esgotamento.

Ao amanhecer, se arrumou e desceu.

O aroma de café fresco preencheu o ar, mas Clara se sentia distante, como se fosse visita em um mundo que não lhe pertencia.

Sabrina estava à mesa com uma xícara. Quando viu Clara, sorriu fraco.

— Conseguiu descansar?

Clara assentiu.

Antes que Sabrina respondesse, a porta se abriu.

Henrique Menezes entrou.

Homem, cerca de 30 anos, presença dominante. Alto, 1,85 m, terno cinza-escuro perfeitamente alinhado. Cabelos loiros curtos, barba bem aparada. O olhar — azul intenso — era analítico, sério. Algo nele transmitia autoridade e proteção, mas também firmeza inflexível.

Henrique parou ao ver Clara, surpresa evidente nos olhos.

Sabrina, vendo o espanto no olhar dele, se adiantou:

— Henrique, essa é a Clara — disse, levantando-se. — A… esposa do Vinícius.

Ele piscou, como se precisasse de alguns segundos para processar.

— Esposa? — repetiu devagar, sem elevar o tom. — Não sabia que ele… — respirou fundo, tentando organizar a ideia. — Que surpresa. Nunca comentou nada conosco.

Clara sustentou o olhar, insegura.

— Casamos há pouco tempo — explicou. — Ele preferiu manter em segredo por enquanto.

Henrique assentiu lentamente, ainda sem entender, mas sem hostilidade.

— Certo… é só inesperado. Vinícius geralmente compartilha decisões importantes, especialmente comigo. — Ele passou a mão na nuca, desconcertado. — Mas se ele escolheu assim, deve ter seus motivos.

Henrique respirou fundo, lembrando-se do motivo da visita.

— Encontramos Vinícius.

O coração de Clara parou.

— Ele está vivo? — perguntou num fio de voz.

— Está. Foi resgatado e levado para Novo Horizonte. Deve voltar em alguns dias.

Henrique respirou fundo, como quem carregava um peso enorme.

— Ele está bem — acrescentou, e Clara quase desabou ali mesmo. — Foi resgatado ontem à noite. Sofreu um traumatismo craniano leve, teve uma pequena hemorragia controlada ainda no resgate. Está consciente. Além disso, fraturou algumas costelas durante a queda, está com escoriações e um pouco debilitado. Os médicos o mantêm em observação apenas por segurança, mas afirmaram que não há risco de morte.

Clara levou a mão à boca; o choro veio como avalanche.

— Ele… está mesmo vivo? Falando? — suas palavras saíram abafadas entre lágrimas.

— Sim. — Henrique confirmou. — Anda com dificuldade por causa das costelas, sente dor ao respirar e deve evitar esforço, mas está lúcido. Se tudo evoluir como o esperado, pode ser liberado em alguns dias.

Clara chorou, rindo e soluçando. Sabrina a puxou para um abraço apertado.

Suzana — imóvel — congelou por um segundo.

As mãos tremeram, a xícara parou no ar. Algo brilhou nos olhos dela — mas desapareceu em dois segundos, substituído por um sorriso falso.

— Que notícia maravilhosa… graças a Deus — disse sem emoção real.

Levantou-se.

— Vou avisar alguns familiares. Preciso espalhar a notícia, todos estão aflitos.

E saiu pelo corredor.

Clara permaneceu sentada, tentando organizar os pensamentos enquanto Sabrina servia café.

— Eu achei que nunca o veria de novo…

— Ele está voltando pra você.

As palavras trouxeram paz suficiente para que Clara conseguisse comer. Depois levantou devagar.

— Vou deitar um pouco. Minha cabeça está pesada.

— Se precisar, me chama.

Clara subiu sentindo o corpo finalmente ceder ao alívio. Porém, ao passar pelo corredor, um murmúrio a fez parar. A porta do escritório estava entreaberta, e a voz de Suzana — agora baixa e urgente — soou completamente diferente do tom doce de minutos atrás.

— A gente precisa agir e resolver isso. Precisa vir aqui para conversarmos.

Clara congelou.

Resolver o quê?

Quem precisava vir?

Por quê?

O arrastar de uma cadeira a fez recuar. Rápida, entrou no quarto e fechou a porta, o coração acelerado. Respirou fundo tentando controlar o desespero.

E pela primeira vez desde que chegou àquela mansão… Clara sentiu medo real.

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