Clara chegou ao apartamento exausta — não pelo corpo, mas pela mente. O jantar, a notícia da viagem para Valença e tudo o que isso implicava tinham apagado qualquer vestígio de apetite. Subiu para o quarto sentindo a cabeça pesada, tomada por pensamentos que se atropelavam.
Foi direto ao banheiro, fechou a porta com cuidado e apoiou as mãos na pia. O reflexo pálido no espelho revelava o quanto sua respiração já não acompanhava o ritmo da própria ansiedade.
Pegou o celular com mãos trêmulas e digitou o número da mãe. O dedo pairou sobre o botão de chamada. Imaginou a cena: a mãe atendendo alarmada, o pai surgindo ao fundo, ambos pressionando perguntas que ela não saberia responder. A mentira ruiria na primeira frase. E Vinícius jamais perdoaria.
Clara apagou a tela, respirando fundo. Não podia envolver os pais daquele jeito, nem expô-los a riscos que nem ela sabia medir. Eles não tinham culpa de nada.
A única alternativa era justamente a que mais detestava.
Leonardo.
A ideia veio