Inicio / Romance / Veterinário Bonitão / [05]Finalmente nos encontramos
[05]Finalmente nos encontramos

Gustavo

Coloquei uma das mãos em seu ombro e respondi com sinceridade:

— Com certeza, Antônio. Será uma honra tê-lo ao nosso lado.

Olhei para minha equipe e dei o sinal.

— Vamos começar os preparativos para o parto!

O auxiliar respondeu de imediato, com a voz firme e o olhar determinado:

— Sim, doutor! Estamos prontos para iniciar.

Antônio olhou para a elefanta, os olhos marejados e o semblante tomado por uma emoção difícil de conter. Respirou fundo e disse:

— Gustavo, estou emocionado por estar aqui, mas também estou nervoso. Este é um momento crítico para Ellie e seu filhote… mas tenho certeza de que dará tudo certo!

A voz dele tremia entre o orgulho e o receio. O suor escorria de leve pela têmpora e, mesmo com toda a experiência que tinha, aquele instante parecia novo, como se o tempo o fizesse reviver tudo de novo — o amor pelos animais, as lutas, as perdas, as conquistas.

Enquanto ajeitava os equipamentos, olhei para ele e mencionei:

— Antônio, você comentou que tem uma história especial com Ellie. Pode me contar mais sobre isso?

Ele sorriu, mas havia uma sombra nostálgica em seu olhar.

— Claro, Gustavo. Ellie e eu temos uma conexão que remonta a muitos anos. Conheci essa gigante quando ela era somente um filhote, há mais de uma década. Foi a primeira vez que trabalhei dentro de um zoológico. Na época, eu ainda estava em estágio e tinha o sonho de me tornar um dos melhores veterinários do país.

Ele fez uma pausa, respirou fundo e continuou:

— Naquele tempo, eu era só um rapaz cheio de vontade, auxiliando uma equipe de veterinários mais experientes. Cuidávamos dos elefantes, e Ellie era a mais nova do grupo, curiosa e barulhenta. Eu a auxiliava a alimentá-la, dava banho, e ela sempre fazia bagunça, jogando água para todo lado. Lentamente, fomos criando um vínculo. Eu me orgulhava de cada pequeno progresso dela, como se fosse uma filha.

— E quando aconteceu o seu acidente? — perguntei com cuidado, sentindo o peso do assunto.

Antônio abaixou o olhar, o tom de voz mais grave.

— Foi alguns anos depois. Eu já havia me formado e havia acabado de receber uma homenagem por um trabalho com espécies em risco de extinção. Eu era reconhecido, sabe? Um dos mais elogiados da equipe. Mas um acidente… mudou tudo. Fiquei meses afastado. E quando Ellie soube que eu não voltaria tão cedo, dizem que ela parou de se alimentar. Entrou em depressão.

O silêncio pesou. O som distante dos outros animais parecia ecoar a dor que ele carregava.

— Quando finalmente consegui voltar, mesmo de cadeira de rodas, ela me reconheceu de imediato. Aquele momento me marcou. Eu ainda estava revoltado, angustiado por perder meus movimentos. Mas quando Ellie se aproximou e encostou a tromba em mim, senti algo… como se ela dissesse que tudo ficaria bem. Ela foi minha terapia.

— Isso é incrível, Antônio. — falei, impressionado. — Ela realmente fez parte da sua recuperação.

Ele sorriu de leve.

— Sim. E, de certa forma, ela me deu uma nova razão para continuar. Mesmo com as limitações, decidi não desistir da veterinária. Meu irmão tem me ajudado muito, mas o amor por esse trabalho… é o que me mantém de pé, mesmo sem estar de pé.

Percebi que, ao falar, ele tentava esconder a tristeza. Notei a aliança em seu dedo. Apesar da distância, ele ainda mantinha o vínculo com Amanda. Algo ali não estava resolvido.

— Deve ter sido uma experiência maravilhosa — comentei. — Como ela era naquela época?

Antônio riu, os olhos se enchendo de lembranças.

— Ellie era curiosa, inteligente e, ao mesmo tempo, uma travessa incorrigível. Costumava roubar frutas das outras baias e fingir que não sabia de nada. Ela me ensinou tanto sobre empatia, sobre a natureza, sobre como cada animal tem uma alma. Gustavo, ela é parte da minha história. Parte do motivo de eu ter escolhido essa profissão.

Senti admiração ao ouvir aquilo.

— É realmente incrível como os animais podem mudar nossas vidas de formas tão profundas. Sua história com Ellie é inspiradora, Antônio.

— E agora — ele respondeu —, estar aqui ajudando-a em um momento tão importante… é uma honra.

— Antônio, sua ligação com ela faz toda a diferença — falei, firme. — E por isso quero que participe de cada segundo desse parto. Serei seu auxiliar, e juntos vamos garantir que tudo saia perfeitamente bem.

Ele assentiu, os olhos brilhando.

— Estamos juntos nisso, Gustavo.

O clima se intensificou quando Ellie começou a se agitar. O chão vibrava sob o peso de seu corpo. A equipe observava em silêncio absoluto. O som da respiração dela, o barulho das correntes, o murmúrio dos outros animais — tudo se misturava em uma sinfonia de tensão.

— Continue apoiando-a — falei, tentando manter a calma.

— Está quase lá.

Antônio inclinou o corpo para frente, atento.

— Estou vendo a cabeça do filhote, Gustavo! Está quase nascendo!

A euforia tomou conta. Ellie fez um último esforço, e o silêncio foi rompido por um som suave, pequeno, mas poderoso. O filhote havia nascido.

— Antônio, temos um filhote saudável! — exclamei, emocionado.

Ele cobriu a boca com a mão, os olhos marejados.

— Conseguimos… — murmurou.

— Ellie, você é incrível!

A equipe aplaudiu discretamente, respeitando o momento. Antônio tirava fotos com as mãos trêmulas. Mandamos verificar o filhote: respirava bem, e tudo estava em ordem.

Duas horas depois, voltamos para ver mãe e filho juntos. Ellie acariciava o pequeno com a tromba, e ele tentava se equilibrar nas patas ainda frágeis. Era uma cena de pura ternura.

— Fizemos um ótimo trabalho, Gustavo — disse Antônio, sorrindo. — Agora posso respirar.

Mas havia algo em seu olhar. Uma sombra que não combinava com a alegria do momento.

— Antônio, você parece distante. Aconteceu alguma coisa?

Ele suspirou.

— É a minha mãe. Ela insiste para que eu peça o divórcio à Amanda.

Fiquei em silêncio por um instante.

— E o que você vai fazer?

Ele hesitou.

— Ontem, quando eu estava observando Amanda fechar a padaria, ela me viu. Veio até mim, disse querer conversar. Marcou um encontro.

— Isso é bom, não é? — perguntei, esperançoso.

— Não, Gustavo. Tenho quase certeza de que ela vai pedir o divórcio. Eu estava pronto para entregar, mas quando a vi sorrir… o meu coração disparou.

— Então você ainda gosta dela.

Antônio desviou o olhar, encarando as próprias pernas.

— Sou inútil como homem. Ela não merece passar a vida ao lado de um inválido.

— Antônio! — Minha voz saiu alta. — Que diabos você está dizendo? Olha o que você fez hoje! Você é um dos melhores veterinários que já conheci. Inútil? De forma alguma.

Ele abaixou a cabeça, e continuei:

— Diego me contou que você rejeitou a cirurgia de novo. Cara, você precisa parar de se punir. Amanda ainda tem sentimentos por você, eu vi isso naquele evento na fazenda.

Antônio forçou um sorriso triste.

— Eu não posso alimentar ilusões, Gustavo. Mas irei ao encontro. Preciso ouvir o que ela tem a dizer.

— Tudo bem — falei. — Mas não se demore demais.

— Vou ficar mais um pouco com Ellie. Preciso pensar.

— Ok. — Fiz um aceno e chamei a equipe. — Vamos voltar ao trabalho.

Depois do expediente, almocei e tentei me concentrar em outros relatórios, mas a cabeça fervia. Mais tarde, encontrei Murilo na praça do zoológico, que naquele dia estava especialmente movimentada. Crianças corriam, turistas tiravam fotos, e o ar tinha aquele cheiro de pipoca misturado com o de terra úmida.

— Murilo, finalmente! — disse, sentando ao lado dele. — Cadê o dossiê que você prometeu? Estou ansioso.

Ele afrouxou a gravata, suado e cansado. Entregou-me uma pasta amarela.

— Tudo o que você precisa está aí dentro, Gustavo. Mas antes de abrir, precisa saber o que descobri sobre ela.

Murilo mal terminou a frase. Algo atrás dele me chamou a atenção. De longe, ainda de costas, vi uma mulher segurando um bebê. Por um instante, achei que era somente uma coincidência.

Mas o coração disparou.

— Não pode ser… — murmurei.

Aproximei-me de alguns passos. Ela virou o rosto. Era Líliam.

Vestia um vestido solto, os cabelos presos num coque simples, e usava óculos. No colo, uma bebê loira de olhos azuis. Ao lado dela, um homem apontava animado para a girafa.

Aproximei-me mais, tomado por um turbilhão de sentimentos. Segurei o braço dela, e ela se virou, pálida, os olhos marejados.

— Gustavo…? — sussurrou.

O homem ao lado dela, o professor de educação física, Enrico, deu um passo à frente e segurou meu braço com firmeza.

— Solta-a — disse.

Olhei para ele com fúria.

— Se você não tirar a mão de cima de mim, eu quebro a sua cara no meio.

Enrico hesitou. Líliam segurou o bebê com força, as mãos trêmulas. Sua voz saiu baixa, doce, mas trêmula:

— Gus… Gustavo?

Aquele som me destruiu e me reviveu ao mesmo tempo. Meu peito se apertou. Ela estava ali, com outro homem… e uma criança nos braços.

— Olá, Líliam — respondi, a voz rouca.

— Você não sabe o quanto esperei por esse momento. Finalmente nos encontramos outra vez.

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP
Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP